segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

O filme que torturou as consciências


Tropa de Elite é o filme de 2007. E não será exagero considerá-lo o filme da última década.
A performance - fantástica - de Wagner Moura, o Capitão Nascimento (ao lado, numa das cenas) é apenas o veículo para que a tela diga o que todo mundo sempre disse, mas não com a contundência, a objetividade e a força que o cinema permite: que o tráfico de drogas não existe sem o consumidor e que o Estado, na sua função de reprimir bandidos, não pode utilizar médotos pedagógicos. Deve pautar-se pela lei. Sem concessões. A pedagogia fica para os pedagogos, a sociologia para os sociólogos e assim por diante.
Tropa de Elite tem o grande mérito de mostrar que a hipocria de ongueiros e sarados que moram em coberturas e citam Foucault apenas por ser charmoso fazê-lo, toda essa hipocria, portanto, descamba no reforço de traficantes que matam, torturam, aterrorizam, subvertem a ordem, acuam o Estado e submetem coletividades inteiras de pobres que moram em favelas. Acham os ongueiros, sarados e foucaultianos que a polícia, em contrapartida, deve tratar os que matam, torturam, aterrorizam e amedrontam com flores, discursos, cursos intensivos de boas maneiras e lições de sociologia.
A polícia - inclusive as de elite - erra quando tortura e mata. E bandidos e traficantes, não?
Tropa de Elite mostra cenas pavorosas de tortura. Além delas, as consciências é que ficam torturadas diante de um dilema: ou se acaba com o tráfico ou o tráfico acaba com tudo e todos.

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