sábado, 30 de agosto de 2008

O dilema entre o perdão e a vingança


Na VEJA:

"Enquanto dormimos / a dor que não se dissipa / cai gota a gota sobre nosso coração / até que, em meio ao nosso desespero / e contra nossa vontade / apenas pela graça divina / vem a sabedoria." Esses versos, escritos há 25 séculos pelo poeta grego Ésquilo,
formam a mais antiga e, para muitos, a mais bela conclamação ao perdão jamais colocada em pedra, papiro, papel ou tela. Bob Kennedy recorreu a ela na tarde do dia 4 de abril de 1968 para, durante um comício, consolar a multidão revoltada com a chegada da notícia do assassinato do líder pacifista Martin Luther King. Dois meses depois, o próprio Bob seria morto a tiros. Em seu túmulo no Cemitério Nacional de Arlington foram gravados esses mesmos versos de Ésquilo, uma passagem da peça Agamenon. A luta entre a sabedoria que leva ao perdão e o desejo de vingança, porém, é mais antiga do que a civilização e é provável que sobreviva a ela, pelos exemplos a que assistimos hoje por toda parte. "Tinha contas a ajustar com ele", disse o judoca português Pedro Dias, que buscou forças não se sabe onde para derrotar na Olimpíada de Pequim o favorito lutador brasileiro João Derly. Dias explicou que o desejo de vingança foi sua motivação. Derly roubara-lhe uma namorada no passado. "Ele foi humilhado, humilhado por mim", comemorou Dias. O sentimento do judoca é da mesma natureza do que acometeu a atriz Jennifer Aniston quando descobriu que Brad Pitt a traía com Angelina Jolie. Depois da separação, Jennifer esvaziou o guarda-roupa de Brad e doou todas as peças a uma instituição de caridade – a versão politicamente correta de jogar a mala dele no meio da rua.
Parece fazer parte do mecanismo instintivo de defesa dos seres humanos responder a um tapa com outro tapa. Os bebês fazem isso com aquele jeito inocente e angelical que torna doloroso chamar a reação de vingança. Dar a outra face é a exceção pregada, com sucesso duvidoso, há mais de 2 000 anos pelo cristianismo. Antes de Cristo, as religiões não apenas amparavam como incentivavam a vingança desproporcional ao agravo. O Velho Testamento é repleto de passagens "olho por olho". Nenhuma tão constrangedora quanto aquela em que o profeta Eliseu é chamado de "careca" por um grupo de crianças e, em resposta, manda dois ursos sair da floresta e despedaçar 42 criancinhas. Deve ser o único caso registrado em que uma peruca teria evitado uma carnificina. Como instituição, a religião é má conselheira nesses casos. As guerras religiosas são sempre as mais inexplicáveis, duradouras e cruéis da história humana. Para entender a origem do desejo de vingança e aprender a domá-lo, o melhor a fazer é trafegar por fora da religião.


Mais aqui.

Um comentário:

Anônimo disse...

Fora da religião mas dentro da vontade de Deus