segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Tráfico deixa marcas de sangue em belém

No AMAZÔNIA:

Mais de uma dezena de assassinatos motivados por acertos de contas e dívidas de droga viraram notícia em 2008. Só na semana do Natal, pelo menos quatro pessoas perderam a vida a mando de traficantes na Região Metropolitana de Belém (ver quadro). Execuções que podem acabar impunes por conta do silêncio imposto pelos criminosos.
A relação entre o tráfico de drogas e a violência vai além da rotina de medo nas comunidades onde a figura do traficante exerce poder. O comércio ilegal de entorpecentes se sustenta em ações criminosas geograficamente distantes das 'bocas de fumo', em áreas nobres e centrais da cidade. O cidadão comum acaba se tornando refém dos assaltos, roubos e seqüestros relâmpago que alimentam e fortalecem o negócio lucrativo e ilegal do tráfico.
'A droga é um eixo da violência. Não é a única causa dela, mas influência para o seu aumento', afirma o presidente do Conselho Estadual de Entorpecentes (Conen), Carlos Prado. Em entrevista ao Jornal Amazônia, em julho deste ano, o presidente do Conen, órgão ligado à Secretaria Estadual de Justiça e Direitos Humanos (Sejudh), foi enfático ao declarar que a presença intensa do tráfico está relacionada com o aumento vertiginoso da criminalidade. Não só em Belém.
Os municípios do interior que foram transformados em rota para as drogas ou destino final dos entorpecentes, enfrentaram aumentos significativos nos índices de crimes violentos no último ano. 'O pior de tudo é que agora não são um ou dois municípios, são vários', pondera o presidente do Conen, Carlos Prado.
Cidades ribeirinhas do Pará foram transformadas em escalas da rota de traficantes internacionais. De acordo com os os relatórios da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre o tráfico de drogas, os rios da Amazônia estão entre os principais caminhos de escoamento da droga produzida na América Latina, principalmente em países como a Colômbia e o Peru. O relatório coloca Brasil e Venezuela como os dois principais entrepostos para a droga produzida na Amazônia colombiana, e seu principal destino, a Europa.
O tráfico internacional de entorpecente encontrou, no Estado do Pará, um caminho livre para a exportação. Mesmo com a repressão, organizada pelas delegacias de polícia Civil e Federal, os rios continuam servindo como corredores para o abastecimento de drogas do Estado e como porta de saída para o exterior. Nos primeiros seis meses deste ano, a polícia interceptou mais de uma tonelada de cocaína no Pará. Parte dessa droga estava escondida em locais inusitados, como dentro de televisores ou em meio a ração de aves. Até duas lanchas com os cascos forrados com tabletes de cocaína foram apreendidas no porto de Belém.
País consumidor - Das 80 toneladas de cocaína que passam pelo país a cada ano, 40 permanecem no Brasil para consumo interno, enquanto outras 40 são traficadas. A estimativa é do representante do Escritório das Nações Unidas Contra Drogas e Crimes (UNODC), Giovanni Quaglia, que lançou no Brasil, no mês de junho, o Relatório Mundial sobre Drogas da ONU. No documento, o Brasil é apontado como consumidor de cerca de 15% de toda a cocaína que é produzida no mundo, e está em segundo no ranking de número de usuários, atrás apenas dos Estados Unidos. De acordo com o relatório da UNODC, o Brasil elevou em 30% o consumo da cocaína e está entre os países onde o tráfico mais cresceu na América Latina, ao lado de Argentina e Uruguai.

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