segunda-feira, 27 de abril de 2009

O amor dos animais


WALMIR BRELAZ
O amor de Suzy por Dyana é comovente, a começar pelo nome de realeza que lhe atribuiu. Hoje saíram às duas horas da madrugada para cortar cuidadosamente o cabelo de Dyana, raspando-o em toda a parte central e aproveitando para pintar de azul o resto do corpo. Ela ficaria linda da cor do céu tanto quanto Júlio, a quem Fany sapecou-lhe um reluzente lilás. Na volta, Suzy passou num man shop, afinal, precisaria alimentar sua afilhada: comprou quilos de sojas, vitaminas em comprimidos, sal, alho, cebola, produtos transgenicamente preparados para fazerem bem a Dyana. A saúde valia a pena. Nessa loja, Dy conheceu vários de sua espécie, deitados em confortáveis quartos pouco maiores que seus corpos e observados por quem lhes pretendiam.
O carinho de Suzy realmente não tinha limites. Queria ver Dyana sempre mais bonita e achou por bem decepar o seu polegar, talvez os dois. Com oito dedos nas mãos, a aparência lhe seria bem melhor. Além disso, não sentiria dor já que o procedimento contaria com doses suficientes de anestesia. A beleza valia a pena. O que importava é que deveria estar preparada para comemoração de seu aniversário, onde encontraria com suas outras amigas e amigos, em especial o Pool e seu fiel Leno.
Pool tinha verdadeira fascinação por Leno e com ele sempre dormia no quintal de casa, sempre abraçadinhos. Quando separados, Pool chegava às lágrimas ao ver a foto de seu amigo na tela do celular. Leno era um fofinho, calmo, falava com a voz de criança apesar de adulto, não gritava e nem era agressivo, um gentleman. Resultado de mais uma prova de amor por parte de Pool, que havia carinhosamente extirpado seus testículos, porém, tudo sem dor e com muita sensibilidade. Ora - pensava Pool -, para que alguém precisa de testículos?!
Na festa, compareceram os convidados esperados. Cada um mais apresentável que outro. Sempre acompanhados, unidos, presos um ao outro por uma simpática e rígida corrente. Mário estava com as orelhas devidamente aparadas, seu companheiro lhe havia feito essa bela transformação: foram só 15 centímetros a menos, poderiam ser mais.
Alguns pintados, sem roupas, sendo exibidos com orgulho por seus respectivos companheiros. Era uma festa das mais prestigiadas.
Mas nem tudo é perfeito, havia os inoportunos protetores de humanos que criticavam estas belas festas, quase sempre beneficentes. Diziam - vejam só - que os seus animais companheiros - a quem taxavam de proprietários daqueles - não respeitavam a natureza dos pequenos e inofensivos humaninhos. Dos olhares meigos diziam serem de tristeza; os cantos agudos, angústia; e da calma, a depressão.
Que raça indigesta a desses protetores! - resmungavam as madames animais. Amamos muito nossos humanos: raspamos e pintamos seus corpos, os mutilamos, para ficarem mais belos e adequados aos nossos padrões. Gostamos tanto deles que queremos que sejam nossa imagem e semelhança, por isso são considerados nossos melhores amigos, são queridos humaninhos domesticados. O amor valia a pena. E a festa continuou arrasando.

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WALMIR BRELAZ é advogado

3 comentários:

Anônimo disse...

Qualquer maneira de amor vale a pena (?)

Anônimo disse...

Amigooooooooo....minhas netinhas, Flor e Mina, já se foram...agora ficou o Bonno, york mais fofo e amável do mundo...anunciei com foto, mas ninguém quer pq é "mijão", pode? Tens que vê-lo, é lindo, uma bolinha só e não pode me ouvir que fica enlouquecido...rssss
Esse amor animal acaba com a gente, né?
Boa semana!!!!

Poster disse...

É verdade, amiga.
Todos nos apegamos a eles.
Abs.