terça-feira, 2 de março de 2010

O depoimento – ou testemunho, com queiram – de um juiz

Magistrado passou por aqui.
Pena que o fez como Anônimo.
Poderia muito bem ter assinado, tão elucidativo e tão sincero é o relato que faz de suas atividades, de suas rotinas.
Por que o blog ousa dizer que é sincero o depoimento – ou testemunho – de um juiz anônimo?
Porque o blog parte da presunção de que juiz, por ser juiz, tem um compromisso com a verdade.
Como devem ter os jornalistas.
Como deve ter qualquer pessoa.
Mas juízes, sobretudo, não podem mentir.
Daí acreditar o blog que seu comentário, em verdade, é um testemunho.
Um testemunho verdadeiro.
Enfim, convém que se leia o que escreveu Sua Excelência com aquele sentimento elástico, ponderado, desprovido de preconceitos e julgamentos precipitados, que nos levam, tantas vezes injustamente, a colocar no mesmo balaio o joio e o trigo.
Leiam o que escreveu o magistrado, ao comentar a postagem O debate entre Jarbas Vasconcelos e Paulo Vieira:

Isso serviu de lição para mim. Sou juiz no interior e durante a semana nunca trabalho menos que 12 horas por dia. Respondo por outras comarcas e gasto meu combustível pra ir até lá, porque pra receber qualquer diária do tribunal é uma burocracia inominável.
Em quatro meses de trabalho, reduzi em 463 processos o número de processos em trâmite . Parece pouco, mas o fato é que manter o número estável já dá trabalho. Isso quer dizer que houve um superávit no número de processos sentenciados, ou seja, saíram mais processos que entraram.
Minha família e meu médico já me disseram várias vezes para eu ir mais devagar. Pois bem, irei! A partir de agora, se não for HC, MS ou outra coisa urgentíssima, não faço mais nada depois das 14h. Não trarei mais processos para ler em casa. Ou alguém acredita que o juiz pega um processo volumoso no horário de expediente e consegue sentenciá-lo sendo a toda hora interrompido, seja por funcionário, parte ou advogado em busca de atendimento? Isso sem contar que, nesse mesmo período, tem inúmeras outras atribuições, como responder 1001 ofícios de tribunais, ensinar servidor desqualificado cedido de prefeitura etc.
Já desenvolvi gastrite, aumento de peso, colesterol (mesmo com dieta rigorosa), por conta da falta de tempo para comer e para exercitar-me. Será que um pouco de qualidade de vida não interfere na produtividade do trabalho? Toda empresa de porte e bem-sucedida busca dar a maior flexibilidade possível aos seus funcionários e o que se tem descoberto é que a produtividade e a criatividade são maiores.
Já precisei faltar varias sextas-feiras para poder ir ao médico, levar a mulher ao médico, cuidar de um problema pessoal ou profissional perante o tribunal etc., mas, nesses anos todos, isso nunca deixou de ser sobejamente compensado pelo tempo extra que dedico, de no mínimo o dobro.
Quando eu passar a trabalhar só até as 14h, se eu conseguir, porque senso de dever é muitas vezes uma coisa terrível, vamos ver se minha produção vai ser a mesma! Chego até a achar engraçado, pois não será mesmo!
Era o que eu precisava de estímulo para saber que minha dedicação só me prejudica e que preciso pensar mais em mim mesmo!
O foco da OAB está inteiramente equivocado. Mas não posso deixar de agradecer por isso ter acontecido. É o que minha mulher sempre diz: não importa o que você faça, seu trabalho jamais será reconhecido nem ninguém será grato por ele.
Sempre haverá mais cobrança, você morre e outro toma o seu lugar e a vida segue normalmente. Só quem perde é você!
Como sempre, ela está certa!

6 comentários:

Anônimo disse...

Viva!
A honrosa excessão existe!
Valeu!

Anônimo disse...

As excessões existem de fato, poucas, mas existem. Só não vamos tapar o sol com a peneira e deixar de admitir que muitos juizes, promotores e defensores do interior trabalhao no sistema TQQ. É só as pessoas viajarem pelo Estado para poder comprovar in loco a realidade.

ALMIR ROCHA disse...

Interessante a OAB fez esse levantamento sobre i trabalho dos juizes e se esquece - deve ser o maldito corporaticismo ou não sei lá de advogados saem cada coisa - e se esquece dos "TRABALHOS" dos advogados que, em sua maioria, atrasam processos quando levam para seus "escritórios" só para que sua PARTE não venham a ser penalizada, isso sim é que DESSERVIÇO.

Anônimo disse...

Acho isso meio engraçado. Se um juíz é corrupto, ele tem aposentadoria compusória (é obrigado a receber o salário sem trabalhar). Já os que realmente se dedicam (as exceções), vivem esquecidos por aí.

Poster disse...

Anônimo das 11h59.
É verdade.
Mas a postagem nada tem a ver com corrupção.
Abs.

Anônimo disse...

EXCEÇÃO, POR FAVOR.....