terça-feira, 29 de junho de 2010

Novo estilo de gestão


Pesquisas comparativas feitas em escalas globais têm o mérito riquíssimo de ajudar você a enxergar e a entender melhor o mundo. Recentemente, revista de circulação nacional revela uma pesquisa de como pensam os jovens brasileiros que estão entrando no mercado de trabalho. Eles são bem menos idealistas que os americanos e europeus - e olha que por lá eles estão enfrentando uma crise feroz. Os jovens brasileiros estão mais ambiciosos. Eles querem mais sucesso, desafios e preparação para futuros empregos. O americano é mais idealista. Mas agora procura segurança.
Apesar de mais pragmáticos, os jovens brasileiros, assim como os americanos e europeus, consideram como objetivo máximo equilibrar trabalho e vida pessoal. Quem pensa em americanos como viciados em trabalho e em europeus como cultivadores dos prazeres da vida, talvez precise reavaliar as crenças diante da geração que está saindo da faculdade: o bom balanço entre trabalho e vida pessoal é a meta número um de 49% dos brasileiros, 52% dos europeus e... 65% dos americanos.
Contudo, o que se tem percebido entre os jovens brasileiros é a ascensão feminina (e a queda da masculina) na sociedade e no trabalho. Sabe-se perfeitamente, que, nas últimas décadas, a maioria das instituições públicas e privadas falhou. Exemplos não faltam: as fraudes corporativas, a decadência de instituições financeiras, os casos de pedofilia na Igreja Católica, a falência de várias empresas etc. E todos esses fracassos foram, essencialmente, fracassos de organizações lideradas por meninos. Então, talvez seja mesmo o caso de dar espaço às meninas e ver como elas caminham por trilhas nas quais os meninos vêm atolando o pé no lodaçal.
Como estamos em plena Copa do Mundo, os meninos precisam lembrar as palavras do técnico de futebol Gentil Cardoso: "Quem se desloca recebe, quem pede tem preferência". Há sinais irrefutáveis da ascensão feminina. No início de 2010, as meninas tornaram-se pela primeira vez maioria na força de trabalho nos Estados Unidos. Na terra de Michelle Obama, a maior parte dos gestores também já pertence ao sexo feminino. E o amanhã lhes sorri: entre os graduandos no ensino superior, a relação entre meninos e meninas já é de três para dois, ou seja, um futuro próspero com melhores empregos e melhores salários para elas.
Na Coreia do Sul, durante séculos, as mulheres eram tratadas como servas domésticas. As mudanças econômicas e sociais ocorridas a partir da década de1970 colocaram a antiga ordem em xeque. Primeiro, as mulheres entraram no mercado de trabalho, trocando o campo pela cidade. Depois, migraram das fábricas para os serviços e daí para as ocupações profissionais. As leis acompanharam a evolução econômica, estabelecendo novos direitos para as mulheres. Fenômeno similar vem ocorrendo em outros países que passam por rápida industrialização, como a China e a Índia.
No Brasil, não é diferente, os setores de saúde e educação têm há muito tempo forte contingente feminino em postos profissionais e de direção. E não faltam professores (e professoras) a apontar as meninas como melhores estudantes. Elas mostram-se frequentemente mais maduras, sérias e focadas que seus pares masculinos. Algumas empresas ainda cultivam, de forma explícita ou implícita, uma cultura machista, mas o futuro não lhes sorri. Teremos um novo matriarcado? Ou seremos mais afortunados e teremos um novo estilo de gestão?

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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com

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