segunda-feira, 5 de julho de 2010

Twitter e babá: sobre confiança e voz

MARA GABRILLI

Em jantar com uma amiga, falávamos sobre eleições. Resolvi tuittar: "Você confiaria seus filhos para Dilma de babá?". Achei a questão bem-humorada e passível de ser compartilhada.
Um turbilhão de críticas brotou. Fiquei pasma assistindo às reações mais diversas. Houve desde quem congratulasse até quem me agredisse. Pouco foi divulgado daqueles que simplesmente responderam à pergunta.
Para mim, ficou claro o quanto as pessoas depositam seus próprios preconceitos ao se depararem com uma pergunta que está longe de ter julgamento de valores.
Fui patrulhada por simpatizantes da candidata, sem nenhuma compostura: chamaram-me de preconceituosa, mesquinha e violenta.
Chega a ser até engraçado receber esses atributos, devido à abordagem que tenho da vida.
Onde está o preconceito da pergunta? Curioso que cada pessoa enxerga em um lugar diferente. Uns disseram que a chamei de feia. Outros, que sugeri que, por ter sido guerrilheira, não é boa no trato com os pequenos. Até me acusaram de ter preconceito com babá. Eu já fui babá, além de precisar deste tipo de serviço 24 horas por dia.
Que conspiração criativa foi essa? Eu perguntei o significado que as palavras montaram. Não falei mal da Dilma, e sim questionei a confiança das pessoas.
Invoquei o imaginário de cada um, como a Dilma humana, sem cargo e sem Lula. Só isso!
Compararam minha pergunta com outra, feita ao Kassab sobre seu estado civil. A sexualidade da Dilma não me desperta a mínima curiosidade. Além do que, trabalho pela diversidade e isso, para mim, tanto faz.
O Fernando de Barros, da Folha, escreveu que eu quis rejeitar a Dilma contrapondo-a à imagem de "mãe do PAC". Dei até risada, porque nunca pensei nisso e o PAC, para mim, lembra biscoito de polvilho. Aventou a possibilidade de ter sido ação engendrada pelo meu partido, o PSDB.
Nossa! Quanta aversão a uma pergunta, enquanto mensaleiros com dinheiro na cueca não causaram esta indignação.
Dedico a minha vida a melhorar a vida das pessoas. Quem pode subtrair-me o direito de perguntar?
Além do que, confiança é item imprescindível para um voto; essa sensação deveria ser estimulada em disputas políticas, não tolhida.
Precisamos de um bom assunto sobre confiança, então aí vai um.
Certa vez, confiei a sanidade da vida do meu pai ao Lula. Empresário de transportes no ABC, homem doce e afável, foi extorquido durante anos com arma apontada na cara por quadrilha de dirigentes da Prefeitura de Santo André.
Essa história é conhecida, culminou no assassinato do Celso Daniel e serviu de laboratório para o mensalão. Quando as retaliações aumentaram e meu pai foi ficando mais doente, enchi meu coração de esperança e confiança e fui tocar a campainha do Lula.
Ele me atendeu muito bem, prometeu, mas nada fez. Meu pai adoeceu e emudeceu. Hoje, também precisa de serviços de cuidadores. Quando, raramente, solta um "Oi, filha", choro de alegria.
Sem dúvida, continuarei a estimular perguntas, ainda que incomode a muita gente.
E você, o que te calaria?

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MARA GABRILLI, 42, tetraplégica, psicóloga e publicitária, é vereadora de São Paulo pelo PSDB. O artigo está disponível na Folha de S.Paulo.

2 comentários:

Anônimo disse...

Ligue não, Mara.
A cumpanheirada, antes "disquerda", hoje se confunde com todos em tudo.
Aliás, esquerda ou direita hoje, como "nuncaseviunessepaís", serve apenas para definir a mão que vai afanar dinheiro público.
A cumpanheirada deixou o restinho de vergonha e ética no arquivo morto e partiu com sede ao "pote das bene$$e$ oficiai$".
É isso, nada mais.
Mas se alguém ousar , ao menos, dizer que a new-cumpanheira Dilma não é simpática, xiiiii, sai de perto.
As patrulhas-cumpanheiras esquecem o mensalão e todos os escândalos que se tornaram corriqueiros e partem para o pau!
Essa é a moral e a ética que se instalou no país nesses 8 aninhos!

Anônimo disse...

Seria Dilma uma babá quase perfeita? Cabe sim perguntar sobre os candidatos, afinal, estaremos sob os efeitos do pensamento e ações de um ou de uma presidente, que não deverá ser um(a) Babá nem Pai nem Mãe de ninguém. Queremos alquém para liderar um país com um grande potencial. Que pode evoluir muito mais do que evoluiu até agora.Que produza, que invista em infraestrutura, que cuide muito mais da educação - pensem como convivem os brasileiros, hoje. Um comportamento chegando quase ao de selvagens -, da segurança, da saúde, da civilidade, da nação como um todo, sem previlégios de estados, de partidos, de cidadãos. Precisamos de alguém que seja verdadeiramente um republicano.