quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Árvores más


A humanidade é a maior floresta do mundo quando comparamos o ser humano a uma árvore. Isto no que diz respeito à variedade de genótipos, culturas, raças e visão de mundo. Desse emaranhado, nascem as relações interpessoais e coletivas. E, assim como numa floresta, existem árvores boas e más quanto à qualidade de frutos. Esta comparação interessante tem pelo menos dois mil anos de história.
Foi Jesus quem nos advertiu acerca das árvores más. São pessoas que podem ter toda uma aparência de bondade, porém, no âmago, nutrem-se da seiva do ódio contra seus pares. Estão sempre dispostas a tirar proveito de toda situação. Egocêntricas. Materialistas. Leem o mundo a partir de uma ótica individualista que elas mesmas construíram à medida que intentavam conquistá-lo.
Embora o ato de julgar pertença originariamente ao Criador, precisamos fazer isso de vez em quando. Não um juízo temerário e condenatório. Mas um julgamento enquanto critério de escolha e defesa, neste complexo de tantas espécies. E não estou inventando nada. Foi o próprio Deus quem nos delegou esse direito, deixar registrado em sua Palavra que conhecemos as árvores más pelos seus frutos.
O que é uma árvore má, neste sentido? É uma pessoa cuja vida inteira produz maus frutos. Diferencia-se bastante de alguém que venha cometer deslizes pontuais. Esta não é uma árvore ruim. É apenas um ser infeliz em determinado estágio da vida. Pecou. Errou. Traiu. Praticou ilícitos. Todavia, foram gotas d’água no oceano. Arrependeu-se. Consertou-se. Sabe também ser fiel e praticar boas ações. Esta é a leitura de sua biografia corrida. Até o direito penal compreende estas árvores: considera os antecedentes, diminui a pena, e chega a declará-las justificadas perante a letra da lei.
E as árvores más? Elas são renitentes no erro. Entra ano, sai ano, e elas não mudam em nada. Assim como as mangueiras de Belém, só produzem o mesmo tipo de fruto. Isso é sazonal. Certo. Produção que dura 20, 30, 50, setenta, 80 anos. Embora discursem sobre suas boas produções, não podem esconder seus legítimos frutos. Eles saltam aos olhos de todos. Estão dependurados em seus pescoços. Presos à árvore. Frutos venenosos, que não alimentam e, se únicos na grande floresta, condenariam o mundo à morte em pouco tempo.
Existe remédio para as árvores más? Existe. Porém, esse é um tema classificado na zona da impossibilidade humana. A pior das espécies pode ter o seu dia de encontro com o Criador. E desse encontro sair uma nova criatura. E como saberemos? Os frutos! Eles serão outros: frutos de paz, justiça e amor. Frutos de perdão, tolerância e humildade. Esse é o critério que Deus nos permite utilizar. Sempre.
Como devemos lidar na convivência de uma árvore perversa? Eis a questão! Sendo exatamente o mesmo tipo de árvore que somos. Revidar nunca. Praguejar jamais. Aliás, se há alguém que pode auxiliar a Deus na transformação de uma árvore má, esse alguém é quem pratica o bem. E não é uma questão de intolerância zero, não. É um cuidado consigo próprio, porque à medida que ferimos alguém, sentenciamos à morte, revidamos... já estamos sendo contaminados pela árvore má. Lembre-se de que só Deus pode passar o machado na árvore. Prefira crer que haverá aquele encontro.Observe bem à sua volta e esteja sempre pronto a perdoar. Mas, para fins de seu amadurecimento pessoal, observe quem erra o tempo todo e quem faz disto a exceção. Considere que as árvores más têm sempre o mesmo fruto ruim. Não é o caso de uma falta aqui, outra acolá.
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RUI RAIOL é escritor (www.ruiraiol.com.br)

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