segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Meu Fusca, meu tesouro



Olhem só!
Vocês se lembram do Pedro do Fusca?
Pedro do Fusca é o leitor do blog que protestou - justamente, vale dizer - quando o Espaço Aberto, a título de baixar a pua, sentar o malho na Oi/Velox, fez uma comparação que mencionou um Fusca e um Maserati.
Pois olhem só as fotos acima.
Elas mostram a fotos do Fusca 58 - o único de Belém - de Pedro do Fusca, que agora revela sua verdadeira identidade ao blog.
Ele se chama Pedro de Carvalho Lopes, atribui-se o qualificativo de "fuscólogo inveterado" e escreveu esse texto delicioso, a que deu o título de Carro de colecionador. Mas o título bem poderia ser Meu Fusca, meu tesouro.
Leiam abaixo.

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Sou um fuscólogo inveterado, de carteirinha e tudo. E é claro que quando tinha o passeio anual patrocinado pelas concessionárias VW, tradição na minha cidade de Belém, participava e sempre vencia na categoria originalidade até 1986. Venci mais uma vez com facilidade, e não poderia ser diferente, pois até os pneus foram escovados com escova dental, tudo no carro teve tratamento Vip.
Aproveitando a felicidade provocada pela vitória, convidei minha esposa para vermos um carro anunciado nos classificados do jornal, que me inebriava a cabeça e me fazia sonhar: o fusca número 1, algo como a moeda número 1 do Tio Patinhas, sem similar, único. O classificado dizia: FUSCA ALEMÃO 1958 - RELÍQUIA, PERFEITO ESTADO DE CONSERVAÇÃO, COM CATÁLAGO DE PEÇAS, DOCUMENTADO, CARRO PARA COLECIONADOR. Já me via desfilando na impecável máquina, brilhando, ofuscando todos os colegas, atiçando a curiosidade e inveja por onde passava...
Ao ver esse veículo no quintal, em meio ao mato, jogado e agonizando, senti uma dor intensa. Era como se o Mike Tyson houvesse acertado um direto no meu fígado, tal o estado de penúria em que se achava o que algum dia fora um altivo fusca, que era agora um amontoado de ferros e bancos, com o motor, caixa de marcha e outras peças espalhadas dentro da carcaça, um moribundo, paciente terminal em UTI de hospital público.
Ainda assim, reuni forças e abri a emperrada porta para examinar seu interior, momento em que voou de dentro um galináceo quase me atropelando. Minha mulher, até então passiva assistente, exclamou:
- Moço, isso não é um fusca, é um galinheiro! Não vale um tostão furado.
Mulher, quando encasqueta com um troço é foda, meu irmão, e haja eu ouvir ladainha sobre o episódio. Ainda ponderei:
- Mas meu amor, com mais mil reais eu deixo o ¨bichinho¨ enxuto e rodando macio por estas ruas de sol e calor .
Não houve negócio. O anúncio ainda saiu por mais uns 15 dias nos jornais.
Novo 20 de janeiro, novamente venci o Passeio do Fusca, mas há um ano me atormentava a perda daquela joia rara. O pior arrependimento é por aquilo que deixamos de fazer, e como dói essa saudade.
Numa intuição, num lampejo, decidi ir até aquele fusca 1958, quem sabe? O que é do homem o bicho não come... E parti em disparada para aquela casa, aquele quintal, mas desta vez sem a mulher. Chegando, circundei a casa e fui de mansinho espiar pelas frestas, foi quando o coração disparou descompassado: o ¨bichinho¨ ainda estava lá.
Era a chance que queria. Bati à porta e fui direto ao assunto, só que desta vez o cara não queria mais vender o ¨carro¨. Sei ser chato quando é preciso, e depois de 4 horas de conversa à base d'água, dobrei o sujeito e arrematei a ¨fera¨ por mil dólares.
Hoje, após mil e uma peripécias para adquirir peças originais, o carro foi todo restaurado.
Ao fim de tudo, sou um fuscamaníaco orgulhoso por ter impedido que o único FUSCA 58 da cidade fosse transformado em ferro de construção em qualquer metalúrgica.

11 comentários:

Anônimo disse...

Vejo este carro a rodar pela Cidade, realmente está muito bonito, parabens ao seu proprietário!

Anônimo disse...

Como pode um carro de 1958, ainda andar como novo? Esta é a pergunta que faço pois os de atualmente tem mecanica sofisticada embarcada, mas precisam de mecanicos de alta plumagem alem de peças que quando precisam ser substituidas custam na maioria das vezes muito cara. O que esta errado o carro de hoje ou o de ontem?

Anônimo disse...

Esta a venda?

Anônimo disse...

Realmente este fusca é um tesouro! Parabéns ao Pedro do Fusca pela persistência e não ter desistido de seu sonho jamais! Exemplo de vida.

Anônimo disse...

Legal! Gostei de ver! Difícil alguém não se apaixonar por um fusquinha desses!

Anônimo disse...

Simplesmente lindooooo! E aos que não compreendem o simbolismo e o significado de um carro desses, só posso sentir muito! Não se está dizendo que os carros modernos de hoje não têm valor, mas sim mostrando o valor de ter um carro antigo ainda conservado.

Anônimo disse...

Rapaz, recordar literalmente é viver! Beleza!

Anônimo disse...

Como uma "maquina" de 58 ainda anda em Belem se ninguem da apoio e muito menos temos lojas que vendem peças para estas "reliquias"? É muita coragem desta gente que possui carros antigos.

Anônimo disse...

Eu AMO Fusca! Adorei o post! Deveriam ter mais posts de curiosidades e personagens como o Pedro do Fusca, que já ví várias vezes em Belém, no Blog. Super!

Anônimo disse...

Quem é cincoentão e nunca teve um Fusca? Com o seu barulho caracteristico, de facil e barata manutenção, somente a modernidade para acabar com ele. Que saudade nas longas e cansativas viagens que faziamos pela Belem/Brasilia para trazermos rodando de São Paulo Para Belem para já vendidos seram entregues a seus proprietários. Nunca tive problemas nestas viagens, nem furar pneu furava, que saudade deste tempo, que inveja do Pedro do Fusca e seu carro maravilhoso.

Anônimo disse...

Paulo, faltou dizer que recebi muitas "mijadas" em casa quando encomendava a minha filha que estudava na Bélgica para dar um pulo na Alemanha e comprasse algumas peças para este fusca, alem do transporte que ela mesmo quando vinha passar férias tinha que trazer, um monte de tralhas, excesso de bagagens e por ai vai, mas valeu a pena tudo o que passei para recuperar este carrinho.
Pedro do Fusca