quarta-feira, 10 de outubro de 2012

"Fui prejulgado e linchado", diz Dirceu


A íntegra da nota divulgada pelo ex-ministro José Dirceu, tão logo se consumou sua condenação, pelo Supremo Tribunal Federal, por corrupção ativa.

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AO POVO BRASILEIRO

No dia 12 de outubro de 1968, durante a realização do XXX Congresso da UNE, em Ibiúna, fui preso, juntamente com centenas de estudantes que representavam todos os estados brasileiros naquele evento. Tomamos, naquele momento, lideranças e delegados, a decisão firme, caso a oportunidade se nos apresentasse, de não fugir.
Em 1969 fui banido do país e tive a minha nacionalidade cassada, uma ignomínia do regime de exceção que se instalara cinco anos antes.
Voltei clandestinamente ao país, enfrentando o risco de ser assassinado, para lutar pela liberdade do povo brasileiro.
Por 10 anos fui considerado, pelos que usurparam o poder legalmente constituído, um pária da sociedade, inimigo do Brasil.
Após a anistia, lutei, ao lado de tantos, pela conquista da democracia. Dediquei a minha vida ao PT e ao Brasil.
Na madrugada de dezembro de 2005, a Câmara dos Deputados cassou o mandato que o povo de São Paulo generosamente me concedeu.
A partir de então, em ação orquestrada e dirigida pelos que se opõem ao PT e seu governo, fui transformado em inimigo público numero 1 e, há sete anos, me acusam diariamente pela mídia, de corrupto e chefe de quadrilha.
Fui prejulgado e linchado. Não tive, em meu benefício, a presunção de inocência.
Hoje, a Suprema Corte do meu país, sob forte pressão da imprensa, me condena como corruptor, contrário ao que dizem os autos, que clamam por justiça e registram, para sempre, a ausência de provas e a minha inocência. O Estado de Direito Democrático e os princípios constitucionais não aceitam um juízo político e de exceção.
Lutei pela democracia e fiz dela minha razão de viver. Vou acatar a decisão, mas não me calarei. Continuarei a lutar até provar minha inocência. Não abandonarei a luta. Não me deixarei abater.
Minha sede de justiça, que não se confunde com o ódio, a vingança, a covardia moral e a hipocrisia que meus inimigos lançaram contra mim nestes últimos anos, será minha razão de viver.

Vinhedo, 09 de outubro de 2012
José Dirceu

2 comentários:

Adelina Braglia disse...

Bom dia, caro Paulo:

sinceramente, o primeiro parágrafo da Nota do Zé é uma revelação histórica.

O Congresso de Ibiúna foi então um chamamento deliberado ao "heroismo": ..." Tomamos, naquele momento, lideranças e delegados, a decisão firme, caso a oportunidade se nos apresentasse, de não fugir!"

Ibiúna, então um município pacatíssimo, teve sua população urbana praticamente dobrada naquele dia, com a chegada dos congressistas. Foi piada durante muitas décadas o fato de terem acabado todos os pãezinhos da cidade. Só isto era suficiente para alertar a repressão. Então tá,Zé. Agora compreendo melhor a sua brilhante estratégia.

Mas, cá pra nós, o povo está exausto de heróis. Eu, pelo menos estou. Os que conheci e o foram verdadeiramente, estão mortos. Alguns silenciosamente, sem mídia e sem futuro, nas ruas e nos porões da ditadura.

Queremos cidadãos comuns, que preservem valores comuns quando no poder, tipo: honestidade, verdade, competência e espírito público.

Abração, Paulo.

Anônimo disse...

Zé saidaí Dirceu, ele mesmo, rasgou sua biografia de lutas.
E o STF não está julgando sua biografia nem sua história.
Tal qual Genoíno, melou-se no mensalão.