quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

O trânsito que mata o nosso povo


O Brasil é um terreno manchado de sangue. O que foi criado para o nosso bem, hoje, é o que nos mata. Envergonha-nos saber que os primeiros quilômetros da BR 316 são os mais assassinos do país. Louvável o gesto do governo federal, que mandou instalar dezenas de radares nesse trecho de morte. Porém, pesar profundo sobre nossa cidade pelo caos que dizima o nosso povo.
Quando olho o trânsito de Belém, fico indignado, pois – a exemplo de qualquer cidadão – sei que existem medidas simples e baratas que podiam ser logo implementadas. E vou dizer o que penso, sem me importar hoje com ordem de pensamento ou texto bem trabalhado. Não vou fazer poesia sobre a mortandade que assola nossa capital.
Conforme matéria publicada ontem neste jornal, uma jovem senhora, grávida de sete meses, morreu atropelada sábado na avenida Pedro Álvares Cabral. Marcelly Reis e sua irmã Marieli foram atingidas por um veículo enquanto cruzavam aquela rodovia. Marcelly e seu bebezinho morreram. A irmã permanece internada. Esses exemplos diários tornam-se mais vivos quando conhecemos a família da vítima. É o meu caso: Marcelly, jovem de 28 anos, era filha e nora de pastores da Assembleia de Deus em Belém. Toda uma vida pela frente, interrompida. Luto para a família. Incompreensão à pequenina filha de um ano e quatro meses.
Belém não é feita para pedestres. Custa tão pouco sinalizar os cruzamentos, por que não se faz isso? Muitas vezes, o pedestre fica completamente à mercê da sorte para saber quanto tempo lhe resta para travessia. Isto porque poucas esquinas têm semáforos para ele. Fico indignado pelo abandono do poder público. Agora, com essa história de faixa cidadã, a morte tem aprovação oficial. Sim, porque não basta pintar o asfalto. Tem de sinalizar. Treinar pedestres e motoristas. Fiscalizar. Belém é uma cidade onde cada qual faz o que bem entende no trânsito. Um exemplo berrante é a situação dos ônibus. O ponto mais crítico para atravessarmos uma rua em Belém é quando o sinal fecha para os carros. Pode esperar: virá uma lata-velha em alta velocidade. Todo mundo sabe que motorista de ônibus avança sinal, mas ninguém faz nada.
Em Belém, motoristas andam na contramão na maior cara de pau. Semana passada, um motoqueiro assustou pedestres que atravessavam o sinal da Magalhães Barata com a Nove de Janeiro. Simplesmente, um indivíduo saiu desta última e entrou na contramão. A toda velocidade, cruzou a faixa de pedestres em uso, sem se importar com nada. Cadê as autoridades? Se fosse um cidadão de bem, que houvesse estacionado o carro para rezar numa igreja, talvez tivesse o veículo rebocado. Francamente!
Caminho todos os dias em Belém e posso testificar a balbúrdia que nós vivemos. Todos os dias dirijo, e sei quanto é penoso ver o nosso povo exposto à morte. Em respeito aos milhares de leitores e eleitores, peço ao novo prefeito que olhe para a nossa cidade. Estamos cansados de ser enganados. Ninguém faz nada pelos pontos críticos da capital. São Brás é o cartão postal da bagunça no trânsito. A cidade cresceu. O povo multiplicou-se. Belém, pouco mudou. Louvável o trabalho do governo do Estado, que nos últimos anos criou novos corredores, como a avenida Centenário. Louvável o município, pela Duque e Marquês. Mas isto é muito pouco para uma cidade com o nosso porte populacional e de veículos.
No Brasil, gasta-se tanto dinheiro com carnaval, futebol e outras coisas do gênero. Por que não investir na vida das pessoas? Por que a prefeitura de Belém não lança uma campanha de educação no trânsito? Quando se tem boa vontade, dá certo. Nosso saudoso Hélio Gueiros lançou uma campanha dessas contra o cigarro nos ônibus, e  resolveu. Por causa do “Zé Bagana”, “Baganoso” e “Se-me-dão”, motoristas e usuários não tiveram mais coragem de encher os veículos de fumaça. Esses personagens de quadrinhos resolveram mesmo o problema. Que tal criar outros agentes, tais como “Apressadinho” (para pedestres que não usam a faixa), “Zé Vermelhão” (para motoristas que avançam o sinal) e “Treme-Terra” (contra poluição sonora)? Até hoje, nossas “ondas verdes” funcionam bem para quem conhece.
De acordo com populares, havia um sinal defeituoso próximo à travessia das vítimas que mencionei. Por que estava assim? Vamos valorizar a vida do nosso povo. Vamos provar, com atitudes, que amamos Belém. Governo, Prefeitura, Ministério Público: vamos mudar essa triste realidade.

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RUI RAIOL é escritor

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