sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Propina não dá em mangueira. Dá?

Olhem só.
Não há corrupto sem corruptor.
É fato.
Se alguém embolsou propina é porque a recebeu de alguém.
Ou alguém aí acha que propina dá em árvore, assim que nem manga?
Pois é.
Essa história envolvendo o subtenente Alexandre de Oliveira Melo, do Corpo de Bombeiros Militar do Pará, acusado de emitir falsos “habite-se” mediante propina de mais de R$ 50 mil, é muito estranha.
O subtenente depôs ontem, na Justiça Militar, e disse, por seu advogado, que está disposto a abrir o bocão, expelindo provas que envolveriam oficiais da Corporação.
Para que forneça as provas, no entanto, o subtenente quer a delação premiada, aquele instituto que garante ao réu uma redução de pena caso venha a ser condenado e, se for o caso, a inclusão num programa especial de proteção, desde que constatado que está sendo alvo de ameaças à sua integridade física.
Por que a estranheza?
Porque a Gafisa diz que não tem nada a ver com a parada, muito embora os tais "habite-se" falsos tenham sido emitidos em relação a empreendimentos da construtora.
Em nota, a Gafisa diz que todos os seus empreendimentos em Belém "são desenvolvidos em absoluta conformidade com os órgãos competentes e que as eventuais exigências das autoridades foram cumpridas, com aprovação formal, por meio de vistorias, realizadas no próprio local dos empreendimentos, e alvarás competentes”.
Mas olhem só: os documentos forjados teriam sido emitidos para cinco empreendimentos só da Gafisa. Por quê?
O subtenente, vejam só, admite ter prestado uma "consultoria técnica" à construtora, pela qual recebeu R$ 200 mil.
A tal "consultoria" englobava quantos empreendimentos? Cinco.
Então, é assim.
É possível que estejamos, todos nós, diante de um monstruoso esquema de corrupção.
Mas é possível também que estejamos, todos nós, diante de um monstruoso esquema de consultoria, em que militares, contrariando regramentos internos da instituição, embolsam fábulas de dinheiro provenientes dos cofres de empresas cujos empreendimentos são passíveis de fiscalização por bombeiros-consultores.
Pode isso?
Como diria o Galvão e suas galvanices: pode isso, Arnaldo?
Afinal de contas, o esquema que o Ministério Público Militar investigar é mesmo um esquema de corrupção ou tudo ficará ao sabor de, digamos assim, vieses e alternâncias vernaculares que apenas encobrem a verdade.
Tomara que as investigações andem rápido.
Para que se possa separar o joio do trigo.
Para que se possa separar corrupção de consultorias.
Para que sejam submetidos ao crivo da legalidade habite-se falsos e habite-se autênticos.

Um comentário:

Anônimo disse...

Tem que ser afastado do trabalho, pedir o afastamento dos sigilos bancários, fiscal e telefônico desse sujeito, dos seus familiares, de todos os responsáveis pela empresa. Não precisa delação premiada, não. Até porque a própria delação não dispensa o cotejo de outras provas a corroborá-las. Ademais, é só mandar fiscalizar todas as obras entregues nos últimos dois anos (que não são muitas) e que foram fiscalizadas por ele. Inclusive, escutei a reportagem na TV e parecer ter sido assim que um superior dele (olhando in loco a obra) descobriu que a obra entregue estava toda irregular e com habite-se. Simples, muito simples. Tomara que o juiz não caia nesse papo de delação premiada..