sexta-feira, 8 de março de 2013

Desinformação, amadorismo e confusão. Durante incêndio.


Mas que coisa!
Princípios de incêndio podem provocar maior ou menos caos.
E podem expor pessoas a maiores ou menores riscos.
Leiam o depoimento abaixo.
É da jornalista Ana Diniz.
Aposentada. Mas sempre repórter. E ótima repórter.
Ana estava no Shopping Boulevard, burante o barabadá de ontem de manhã, em que a cozinha de um restaurante pegou fogo.
Leiam o que ela observou e concluam, vocês mesmos em quem mãos, sob que cuidados ficaram milhares de pessoas que estavam por lá, na ocasião.
Um espanto.
Simplesmente um espanto.

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Eu estava no subsolo do Boulevard quando ocorreu aquele princípio de incêndio. Apesar de aposentada, ainda sou repórter e é claro que fui observando tudo enquanto saía.
Conheço bastante das normas de segurança para escrever o que vai a seguir. Procurei atribuir cada falha a quem de direito.
Primeiro: ninguém avisou as lojas do que estava acontecendo. Esta medida é preliminar, por duas razões: a primeira é que o empresário, que sustenta o shopping, ou o seu gerente, têm responsabilidades com seus clientes e devem minimamente ser informados, para tomar as providências cabíveis.  Muitos desses responsáveis têm instruções específicas de procedimento (bancos, lavanderias e prestadores de serviço respondem pelos bens sob sua guarda) para cumprir e podem perfeitamente coordenar os seus funcionários na evacuação e no mais que for preciso. Pergunta: o shopping não tem sistema de comunicação interno com seus lojistas? A primeira impressão, no subsolo, quando as pessoas começaram a aparecer correndo,  foi de que se tratava de um assalto, e houve quem se trancasse nas lojas.
Segundo: funcionários da segurança apareceram com comunicadores de mão gritando “Calma, calma!” e mais nada. Nenhuma informação e, sobretudo, nenhuma organização. As pessoas que estavam ali se dirigiram naturalmente para a garagem onde os carros arrancavam de qualquer maneira, um atrás do outro. Não havia postos previamente marcados para os funcionários assumirem, de forma que tudo ficou por conta de se lembrarem eles dos treinamentos e aplicá-los ali. O shopping não tem plano de contingência? Os bombeiros não cobram plano de contingência? Não há ensaios para emergências?
Terceiro: uma funcionária de uniforme, não sei se do shopping ou de loja, procurando sua própria salvação, viu aquele lote de gente correndo para a garagem e assumiu a condução do grupo: “Aqui tem uma saída, por aqui!”, e lá fomos nós. Entramos, por uma porta sem sinalização, num corredor estreito, suficiente apenas para a passagem de duas pessoas, ombro a ombro. Uns 50 metros de corredor, uma curva. Nesta curva, enfim, uma plaquinha de saída. Mais dez metros e uma porta. Depois da porta, um quarto de volta para atingir os dois lances de escada para cima e, enfim, a porta da rua. No meio do caminho, como eu estava andando, a funcionária me estimulou: “Depressa, senhora, está pegando fogo nas Americanas!” Foi aí que eu soube que era incêndio, e o fato dela mencionar as Americanas foi porque essa loja fica no subsolo, já houve incêndio no seu depósito uma vez,  e a moça não sabia onde era o fogo. Naturalmente, estava apavorada, mas ainda se lembrou de nos conduzir para fora, junto com ela. Nosso grupo era pequeno; mas imaginem uma multidão correndo naquele corredor estreito, com curva e escada! Essa responsabilidade é direta dos bombeiros: como é que se libera uma armadilha dessas? Por onde é a saída de emergência do subsolo, hein? Cadê aquela escada de cinco metros de largura, ou rampa de dois metros de largo, que leva diretamente para a rua? Se tem, não vi, e nem a apavorada moça que trabalha lá sabe que ela existe.
Quarto: a energia não foi cortada. Isso também é preliminar em caso de incêndio, porque, mesmo se de pequena monta, ninguém sabe o que pode acontecer em seguida. Qualquer pessoa sabe disso e não adianta dizer que “era só um princípio”, porque foi depois de “um pequeno princípio de incêndio sob controle” desses que morreram, recentemente, duzentas e tantas pessoas. Alguém, no shopping, tomou a decisão errada: ou é despreparado ou é maldoso, para não dizer o pior.
Quinto: se a energia tivesse sido cortada, não haveria lâmpadas de emergência suficientes naquele subsolo – e talvez a falta de lâmpadas suficientes explique a decisão do despreparado que manteve a energia ligada. Não cheguei a contar, mas a distância entre elas é reveladora. Naquele corredor, por exemplo, não havia nenhuma. Novamente, isto remete para os bombeiros. Se eles um dia tiverem que entrar naquele subsolo (que Deus não permita!) vão amaldiçoar o colega que liberou aquilo.

4 comentários:

Anônimo disse...

Otima avaliacao. Por favor divulguem!!!

Anônimo disse...

Quando se vê um incêndio, qualquer pessoa está autorizada a apertar um botão que fica próximo aos hidrantes e mangueiras, que dispará uma sirene geral. Não espere para fazer isto. Se tiver certeza que é um incêndio, faça.

Anônimo disse...

É o a republiqueta brasil (com letras minúsculas mesmo).

Anônimo disse...

E as escadas ABERTAS que ficam dentro do shopping? Imaginem uma multidão se espremendo e caindo, provavelmente, por ali...naqueles degraus escorregadios de madeira...