segunda-feira, 18 de março de 2013

Nosso país poderia ser bem menor


Todo brasileiro que for à Inglaterra não pode deixar de visitar a famosa abadia de Westminster, em Londres, e ficará perplexo ao ver o vistoso túmulo de um lorde escocês chamado Thomas Cochrane, onde se lê com destaque que ele foi Marquis of Maranham. A curiosa inscrição é uma tradução para o inglês do título de marquês do Maranhão, outorgado por ninguém menos que dom Pedro I, primeiro imperador do Brasil. Mas como este que até hoje é considerado o maior herói naval da Escócia veio parar nos trópicos?
A verdade é que Thomas Alexander Cochrane, 10º conde de Dundonald e marquês do Maranhão, nasceu em Annsfield, próximo da cidade Hamilton, na Escócia, em 14 de dezembro de 1775. Aos 17 anos, se engajou na marinha real britânica como guarda-marinha. Durante as guerras de Napoleão contra a Inglaterra, ele demonstrou tanta ousadia em operações navais e sua excessiva popularidade despertava ciúmes e inimigos. Elegeu-se para o Parlamento e inimigos influentes o acusaram de atividades fraudulentas. Sua carreira brilhante, parecia encerrada. Em 1818, aceitou trabalhar para combater nas guerras de independência do Peru e do Chile, país onde foi homenageado com um memorial na cidade de Valparaiso.
Sabedor de sua atuação brilhante no Pacífico, o ministro das Relações Exteriores José Bonifácio de Andrada e Silva aconselhou o jovem imperador dom Pedro I a contratá-lo. O convite foi aceito. Cochrane partiu de Valparaiso, em 17 de janeiro de 1823, e chegou ao Rio de Janeiro em 13 de março. O decreto imperial de 21 de março de 1823 formalizou o acordo, e ele assumiu o comando da esquadra brasileira. Foi enviado com as tropas para a Bahia e o Maranhão. A manutenção da unidade territorial era uma questão importante para consolidar a independência do Brasil.
Negando o governo imperial, a Bahia e o Maranhão optaram por permanecer ligadas às cortes portuguesas. Entre 7 de setembro de 1822 e 2 de julho de 1823, uma violenta guerra tomou conta da Bahia, após a primeira escaramuça com os navios portugueses, com larga utilização de mercenários contratados pelo governo central. Após muita luta e perseguição, Cochrane vence com certa facilidade e a Bahia aderiu ao império do Brasil no dia 2 de julho de 1823.
Depois de missão pacificadora na Bahia, Cochrane encontraria sérios problemas no Maranhão. A situação na província era caótica e a Junta
Governativa local foi a que mais se aferrou à fidelidade a Portugal e à casa de Bragança. Quase um ano depois do 7 de Setembro e ao submeter-se à ameaça dos canhões da frota de lorde Cochrane, que bloqueou o porto, o rio, a ilha e as águas. Ele intimou a cidade a proclamar solenemente a adesão da província do Maranhão ao Império do Brasil.
Durante a primeira visita ao Maranhão, Cochrane enviou seu imediato John Pascoe Grenfell à província do Grão-Pará, onde também havia resistência ao governo imperial. Ele usaria a mesma tática que o almirante utilizara ao chegar a São Luís, isto é, anunciando que uma grande esquadra estava chegando. Segundo se tem notícia, a conquista do Grão-Pará gerou em torno de 1.300 mortos, dos quais 252 vítimas de sufocação por cal virgem no porão de navios aprisionados pelo mercenário inglês a serviço do império.
Se o lorde não tivesse vindo ao Brasil, as províncias do Maranhão e do Grão-Pará, diretamente subordinadas a Lisboa, dificilmente poderiam ser recuperadas, tão distantes e isoladas da capital estavam, logo depois da independência e que mais cedo ou mais tarde cairia nas mãos dos ingleses e se tornaria uma nova colônia e nosso país poderia ser bem menor.

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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra@gmail.com

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