segunda-feira, 27 de maio de 2013

Ilusões à venda


É perda de tempo discutir se uma mídia devora a outra, tanto que o rádio, veículo centenário, continua aí, reinventando-se corajosamente, em sua elétrica loquacidade, para enfrentar a competição dos donos da informação com imagem e das rotativas. Será que todos os veículos que compõem a mídia falam sempre a verdade na sua relevante função de informar?
Por esses dias, li numa revista de circulação nacional, que o presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, para ironizar, num cenário de aparente ingenuidade, que dada a fragilidade técnica de sua decisão de negar os embargos infringentes dos condenados no chamado “mensalão”, adota postura autoritária e deixa transparecer o desejo soberbo de manter imutáveis as condenações em processo que teve a sua relatoria. Será que esse tipo de mídia, viu o julgamento com os olhos do PT? Da mesma forma usa artimanhas para não contornar o óbvio? Essa turma ao ser medicada com um rótulo da moda tem sintoma de agressividade.
Ainda, como mudar a regra do jogo e a querer, numa espécie de tapetão judiciário, dar ingenuamente por encerrado o embate processual antes do término regimental previsto, surpreendeu a decisão monocrática do presidente do STF, Barbosa, de não conhecer, no processo apelidado de “mensalão”, os defensivos embargos infringentes.
O recurso de embargos infringentes foi apresentado por Delúbio Soares com fundamento em artigo do Regimento Interno do STF. Esse recurso visa ao reexame do mérito de condenação por autoria de crime de formação de quadrilha e têm por fundamento os quatro votos absolutórios lançados quando do julgamento. Por evidente, a decisão de rejeitar sem exame de mérito os embargos infringentes será levada para reexame dos demais ministros. Pelo que circula nos supremos bastidores, o entendimento de Barbosa não prevalecerá. Será uma terapia de risco? Suspense psicológico com direito a reviravoltas?
Para o presidente do tribunal, Delúbio socorre-se de recurso não previsto na Lei 8.038, de 28 de maio de 1990. Trata-se de uma lei instituidora de normas procedimentais perante o Superior Tribunal de Justiça e o STF.
Não é segredo para ninguém que o presidente do Supremo, avisou seus auxiliares próximos que está decidido a seguir com suas declarações cutucando a classe política e as relações do Congresso com o Palácio do Planalto. Ele está muito feliz com a repercussão de suas críticas, fica enlevado ao ler cada uma das mensagens de elogio que recebe de todo o País, mas para aqueles mais interessados nega a intenção de disputar a Presidência da República, em 2014.
Mas uma parte da mídia se surpreendeu, ficou surpresa mesmo, quando na sexta-feira, 3, ao participar de um evento sobre liberdade de imprensa, acha que o presidente do STF, voltou-se contra quem o elevou à gloria das páginas impressas. Não se deu por satisfeito: também condenou o racismo reinante no Brasil, de várias formas e maneiras. Mas a turma do contra acha que Barbosa tinha endereço certo, os três grandes jornalões brasileiros. Acredita que Barbosa não hesita em acentuar que os principais diários brasileiros inclinam-se, digamos assim “para a direita no campo das ideias”. Instalem-se balcões para venda de ilusões.
Acreditam que os reparos de Barbosa conduzem a uma conclusão: se a mídia é reacionária, reacionário é o ataque diuturno e concentrado contra quem governou o País nos últimos dez anos, Lula e Dilma. Quanto ao racismo, revelasse nas próprias redações. Não há negros em posições de liderança nos grupos da mídia e fora dela.
Não vejo nenhuma apelação às declarações de Barbosa. Depois que começou a dizer certas verdades, parece ter ferido suscetibilidades. Tem gente se melindrando com muita facilidade. O certo é que Barbosa é um homem de notório saber e tem dado uma contribuição extremamente preciosa ao Brasil.

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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com

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