sexta-feira, 24 de maio de 2013

Terrorismo do Bolsa Família e efeitos do boca a boca


Por Carlos Castilho, no Observatório da Imprensa
O episódio do pânico coletivo causado pelo boato em torno do fim do Bolsa Família mostrou os efeitos devastadores do boca a boca quando as pessoas temem perder algo importante para suas vidas. As consequências foram visíveis e impactantes, mas as causas estão envoltas num emaranhado de suspeitas, que provavelmente exigirão algum tempo para serem esclarecidas.
O certo é que não foi algo espontâneo, fortuito ou ocasional. O fato de ter atingido dez estados brasileiros, na sua maioria localizados no Norte e Nordeste do país, em bairros periféricos e cidades do interior, mostra que existiu algum tipo de sincronismo para mobilizar pessoas, em geral mulheres, com reduzido acesso às fontes primárias de informação.
A única pista possível e concreta para identificar a origem é a velha pergunta: a quem interessa um episódio como esse? É claro que a questão será inevitavelmente politizada e com isso cada parte terá o seu discurso para livrar-se das suspeitas.
Quem poderia resolver a questão é a Polícia Federal, encarregada pelo governo de investigar o caso, mas a natureza sincronizada da corrida à Caixa Econômica Federal, inclusive para receber um pouco plausível e extemporâneo presente doDia das Mães, no valor de 200 reais, vai exigir da PF um esforço bem maior do que o dedicado costumeiramente a casos de corrupção entre políticos ou em ações espetaculares contra o narcotráfico.
Se a Polícia Federal for capaz de esclarecer rapidamente o caso do Bolsa Família, apresentando resultados irrefutáveis, ela estará prestando um enorme serviço ao país porque se mostrará capaz de neutralizar o uso criminoso do boca a boca para implantar o medo, insegurança e dúvida na população. Isso não é pouca coisa numa realidade onde a informação passou a comandar quase tudo em nossa sociedade.
Este é o nosso grande dilema contemporâneo. Como gerenciar individualmente processos coletivos de disseminação de boatos, rumores e notícias? Todos nós passamos a ter algum tipo de responsabilidade informativa para interromper a sequência de eventos que transformam o boca a boca numa arma letal.
A origem de um boato geralmente é centralizada e verticalizada, mas as suas consequências só podem ser neutralizadas de forma coletiva, com base na soma de vontades e conhecimentos individuais. 
Alguém tem um interesse direto e uma estratégia preestabelecida para iniciar o processo viral de disseminação de um rumor ou informação distorcida. Os receptores reagem em função de seus interesses, estado de espírito e nível de informação. Mas quando o boato atinge o bolso, crenças religiosas ou relações familiares, as reações quase sempre são instintivas e emocionais, ampliando os efeitos pretendidos pelo cérebro por trás da boataria.
No caso do Bolsa Família, não adianta politizar porque – aí, sim – cairemos num bate-boca estéril que só aumentará o clima de dúvida e incerteza sobre o qual se apoiou a corrida à Caixa Econômica. O episódio, pelas suas consequências, pode ser classificado como um delito porque provocou vítimas, destruição egerou o terror entre famílias temerosas de perder um benefício que hoje é a base da política de redistribuição parcial de renda no país. É um tipo caso para a polícia, não só da Federal (a quem cabe a maior responsabilidade), mas todas as demais corporações policiais do país.

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