quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

1981, uma história de fé em O LIBERAL


Hoje, quero repartir com você uma das histórias mais tocantes que ouvi nos últimos anos. É a história de um menino que comprou uma casa com parte do lucro que obtinha com a venda deste jornal. É uma história de fé, persistência e muita disciplina. O personagem desta história real é Henrique Mesquita, atualmente pastor e professor de língua estrangeira em Belém.
Na década de oitenta, Henrique era um menino pobre de dez anos de idade. Sua família passava muitas necessidades, vivendo num casebre paupérrimo alugado. Para ajudar, o garoto começou a vender jornais por volta de sete anos. Ainda bem cedinho, Henrique dirigia-se ao ponto de distribuição do jornal para receber a sua cota do Seu Sérgio, antigo baderneiro, assim chamada no meio jornalístico a pessoa encarregada da distribuição.
Com essa tenra idade, Henrique propôs secretamente no seu coração comprar uma casa para a família. Semanalmente, ele separava o lucro de dez jornais que vendia diariamente e entregava para o baderneiro guardar. Entregava-lhe suas poucas economias, que deveriam ser depositadas em caderneta de poupança para o objetivo pretendido. Assim Henrique fez durante três anos.
Em 1981, o sonho da casa começou a ganhar forma: um imóvel foi posto à venda perto de onde Henrique morava. A mãe dele levou a notícia para a família, apenas a notícia mesmo, pois ela não tinha a mínima chance de comprar a casa. Foi nessa hora que, ouvindo os lamentos de sua genitora, o menino anunciou para a sua mãezinha que ele mesmo iria comprar o imóvel. Henrique correu para o velho baderneiro, pessoa tida por outros como desorganizada e esbanjadora. E lá veio o segundo milagre: Seu Sérgio trouxe o extrato bancário e todo o valor guardado.
Henrique esperava agora alegrar o coração sofrido de sua mãe e de seus irmãozinhos. Mas, para tristeza do menino, o efeito foi justamente o contrário: a proposta foi recebida com ira e muita desconfiança, até porque, na véspera, querendo apressar o negócio, Henrique fora conversar com a vendedora.
Não foi nada fácil, Henrique precisava agora de toda a habilidade para convencer sua mãe que ele tinha mesmo o dinheiro e que este era lícito. O valor da casa era 30 mil cruzeiros. Desconfiada, a mulher armou-se do cinto mais firme que achou e deu uma surra no menino, pois eram pobres, é verdade, todavia, ninguém fora acusado de mexer a coisa alheia. Que situação! Um menino de dez anos de idade precisava agora comprovar urgentemente que tinha economizado dinheiro durante três anos. O baderneiro confirmou a história.
Mas as economias de Henrique somavam apenas 25 mil cruzeiros. Comovidos, outros jornaleiros se uniram e conseguiram mais mil, porém, ainda insuficiente. O burburinho chegou até a redação do jornal e aos ouvidos do seu proprietário, o jornalista Rômulo Maiorana. Comovido, Rômulo Maiorana chamou Henrique até a sua sala na antiga redação da rua Gaspar Viana e disse-lhe: “Eu tenho aqui cerca de mil cruzeiros que alguns jornaleiros me trouxeram. Você sabe de quem é esse dinheiro?”. Henrique respondeu, convicto: “É meu”, ao que retrucou Rômulo, brincando: “Não, não é. Tudo o que tem aqui é meu: o jornal, os carros..., e agora este dinheiro”. Em seguida, disse ao garoto: “Este dinheiro trocado agora é meu, mas o seu agora é este!”. E, abrindo a sua gaveta, Rômulo Maiorana entregou ao menino os cinco mil de que precisava para comprar a casa de sua mãe. Foi uma cena comovente. O jornalista confessou-se surpreso com a iniciativa do garoto e o parabenizou.
Esta surpreendente história eu contei no livro de reflexões diárias “Meu Dia com Deus” na quarta-feira passada, dia 22. Domingo último, estive na igreja que o Henrique Mesquita pastoreia aqui em Belém. De repente, um fato extraordinário chamou minha atenção. O Henrique testemunhou ali que quarta-feira passada, quando dirigia, ele sofreu a abordagem de seis adolescentes fortemente armados, saindo incólume do cenário de crime. Eu não me contive: enquanto ele citava o dia desse episódio, eu fui conferir a data da leitura anual em que ficou registrado o seu testemunho de vida: era exatamente o dia 22 de janeiro! Não, não fora coincidência mesmo o título da história que agora escrevo: “Deus Honrará sua Fé”. Ainda estou impressionado com todo esse fato: com a disciplina de um menino de sete anos que comprou uma casa para a sua família, com a honestidade do baderneiro, com a sensibilidade do jornalista Rômulo Maiorana e, agora, com a palavra profética do Devocional diário.

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RUI RAIOL é escritor
www.ruiraiol.com.br

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