segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Relato sobre um odisseia em Guarulhos

Olhem só.
Sabem aquela expressão "imaginem na Copa!", que alguém solta quando vê a bagunça, o tumulto, a desinformação generalizadas por aqui, seja no trânsito, seja no aeroportos, seja em qualquer lugar, sobretudo nas cidades-sedes do Mundial?
Pois é.
Passageiros que estavam na fila internacional do Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, na última sexta-feira, disseram isso várias vezes.
Dois leitores do blog estavam lá. O redator publicitário publicitário Marcos Cangiano e sua namorada. Apenas ela viajaria para o exterior. Mas ambos - e trocentos outros que estavam na fila quilométrica -  testemunharam a bagunça.
Acompanhem, abaixo, o relato do Marcos, que também mandou a foto.


O que passamos hoje (eu e Laís) é um retrato fiel do quanto podemos não nos orgulhar enquanto nação. Porque, analisando a fundo, falhamos muito neste sentido.
Uma ida ao Aeroporto de Guarulhos, na Grande São Paulo, por si só já é uma aventura. São cerca de 25 km do centro da cidade - seguindo o padrão da maioria das capitais cosmopolitas, onde o aeroporto fica em regiões periféricas. A grande diferença é a variedade e a qualidade dos meios de transportes disponíveis. Em SP temos três possibilidades para chegar até lá: de carro próprio ou carona de um valente jesuíta, de táxi (em média R$ 90 do centro) e com o Ônibus Airport Service (por volta de R$ 30) que parte de diversos pontos da cidade. De outras cidades já em estágios avançados de desenvolvimento, quase todas possuem uma linha de trem ou metrô que sai de dentro do terminal e chega ao centro da cidade, normalmente em 30 minutos. Além, é claro, das opções que nos já temos.
Eu me questiono sobre o porquê de ainda não termos a tal da Linha Branca do metrô até o aeroporto, prometida para a Copa 2014. Por que o drama que passamos no trânsito a caminho de lá não existiria se houvesse essa linha, que não será entregue a tempo.
Foram 2h30 para sair da Rua da Consolação e chegar até Guarulhos, em um trecho que leva 20 minutos em dias sem trânsito. Que, aliás, estava especial. Juntamos temporais na cidade, com pessoas indo viajar, voltando para suas casas e a quantidade pornográfica de carros na rua. Sem falar das faixas exclusivas para os ônibus - que eu acho ser um caminho interessante para resolver alguma parte da questão da mobilidade urbana por aqui -, que ainda vão demorar a surtir o efeito esperado. Não, o paulistano não deixou o seu carro em casa. Porque ele não tem ainda um transporte público de qualidade, rápido, confortável e que garanta a sua segurança. Não, ele prefere a segurança de seu automóvel, muitas vezes sozinho, a se arriscar nas ruas aonde se assassinam homossexuais por puro sadismo e um preconceito escabroso. A nossa babilônia esta cada vez mais "de pau duro". E, dos lados lá do Planalto, diminui-se o imposto sobre os automóveis.
Pois bem, chegando a Guarulhos, a típica dificuldade em se achar uma vaga - que está melhorando, sejamos justos, com um novo edifício-garagem parte do projeto de modernização da área e do futuro terminal 3. Para fazer o check in, filas intermináveis e falta de informação clara. Corredores abarrotados e sem esteiras rolantes, que ajudam na troca rápida de terminais. O aeroporto de Schiphol, em Amsterdam (HOL), possui várias, indispensáveis na hora de uma conexão rápida.
Pois bem, feito o despacho das bagagens, o funcionário da American Arlines gentilmente nos alerta para o embarque imediato (faltando 1h30 para a decolagem), pois a fila internacional era enorme e eles não passariam ninguém na frente. Quando perguntei a ele se não era possível uma ajuda da companhia aérea, por conta do horário apertado, ele me respondeu: "Se a gente vai lá, os policiais federais tomam o nosso crachá". Me pergunto em qual lei ou direito eles se baseiam para cometer esse tipo de arbitrariedade. Feito isso, vamos até a fila e o choque: um mundarel de gente esperando para passar pelo controle de passaportes. A fila fazia 5 voltas, indo e voltando, e lá haviam no mínimo umas 500 pessoas, sendo bem pessimista.
Era uma desorganização vergonhosa. Enquanto a Laís esperava a sua vez chegar (apenas ela embarcaria), fiquei de olho nos "operadores de fila", aqueles aspones pobre-coitados. Nenhum e nenhuma falavam uma palavra em outro idioma. Oras, estamos no embarque internacional, espera-se pessoas de outras nacionalidades embarcando por ali, certo? Dito e feito, vários deles, vendo o caos, ficavam desesperados pedindo ajuda para embarcar preferencialmente, procedimento de praxe em qualquer aeroporto sério. Os bedéis apenas davam de ombros, diziam "não entender" e mandavam os pobres para o final da fila. Só eu ajudei ao menos uns 6 com orientações, pois por sorte falo inglês. Sorte mesmo. A Copa do Mundo é quando mesmo? Estava até o tal marido da Fernanda Lima (alô Ffia!), o Rodrigo Hilbert, esperneando no balcão de informações. Pegou a fila como todo mundo, além de tirar umas fotos com as fãs.
Tenho certeza que muita gente perdeu seu voo ontem à noite. O que fazer? Hotel no aeroporto? Imagina. Apenas um da Marriot, um tanto quanto distante, sendo necessário um carro para ir até lá.
Por sorte a Laís conseguiu embarcar, não sem antes passar por mais aperto e falta de orientação e organização na sala de embarque - precisando inclusive pegar o "busão" que leva até a aeronave. Fingers? Conforto?
A minha conclusão dessa história toda é que, somado ao recente aumento do imposto sobre a compra de moeda estrangeira (desta vez nos cartões de viagem) o governo também pretendo dificultar a viagem para o exterior já na alfândega, diminuindo a quantidade de oficiais. O processo torna-se estressante, cansativo e frustrante. Tem gente a pensar duas vezes antes de sair de Terra Brasílis.
É claro que é preciso considerar que estamos em um período de férias, é natural que o aeroporto lote. O que não é natural é o descaso e a falta de informação gritante da equipe do aeroporto e a moleza da Polícia Federal, que aliás é bem eficiente na hora da chegada, quando garantem os iPhones e PlayStations da criançada, apreendidos todos os dias de quem não quer ser taxado em até 70% sob o valor do produto.
Vamos mal. E 2014 já chegou.

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