segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

BRT nas alturas


FRANCISCO SIDOU

"Nem tudo que se enfrenta pode ser modificado, mas nada pode ser modificado até que seja enfrentado" (Albert Einstein)

Lembrei-me dessa frase de um gênio da humanidade ao rever algumas cifras do milionário projeto do BRT de Belém, hoje já orçado em torno de R$-500 milhões, depois de uma fase inicial conturbada, por falta de planejamento e abundância de erros de gestão, suspeitas de licitação manipulada, desvios de rota e de verbas públicas, que já contabilizam um prejuízo de cerca de R$ 84 milhões jogados fora pela janela da imprevidência e da irresponsabilidade administrativa.
São enormes os problemas ainda previstos até que se viabilize esse mega-projeto, que corre o risco de causar ainda muitos atropelos à população belenense no seu dia-a-dia e na sua qualidade de vida, já bastante ameaçada pelos congestionamentos colossais e pelo precário sistema de transporte coletivo, com ônibus sucateados que circulam pela cidade travada pelo excesso de carros e escassez de novas vias. Não seria o caso, senhor prefeito Zenaldo, de fazer um up grade nesse milionário projeto do BRT para uma reavaliação de seus custos e prováveis benefícios? As ruas de uma cidade são como as veias do corpo humano: quando entopem o organismo entra em colapso. É o está acontecendo com Belém, por acúmulo de pelo menos 30 anos de omissões e de falta de obras viárias para desafogar o trânsito e o tráfego da cidade.
Muitos projetos e planos foram abandonados nas estantes e prateleiras empoeiradas da Codem, entre os quais o PDTU dos técnicos japoneses da JICA, que previram, em 1985, que Belém poderia parar "por volta de 2010", caso não fossem realizadas obras já então consideradas inadiáveis, como viadutos nos principais corredores de tráfego(além de anéis viários no Entroncamento e em São Brás) e abertura de novas vias. Desde então, foram apenas realizadas obras isoladas e cosméticas, como os túneis do Entroncamento, que custaram a bagatela de 80 milhões de reais e que alagam quando chove. Outra obra sem noção foi aquele viaduto da Bandeira Branca. Que, por sinal, precisa ser demolido em parte para possibilitar sua ligação direta com a avenida João Paulo II , cruzando a Almirante Barroso, para liberar o tráfego reprimido da avenida Doutor Freitas, em direção à própria a avenida João Paulo II e Ceasa. Hoje ele apenas serve para engrossar o "caldo" do colossal congestionamento da Almirante Barroso.
Então, o que defendemos ?
Que se convoquem os técnicos japoneses da Jica para que realizem com a competência e profissionalismo que são sua marca registrada, um verdadeiro choque de planejamento e de gestão no Projeto BRT-Belém, adaptando-o para o sistema de monotrilho aéreo, já existente em cidades bem menores que Belém, como Alegrete (RS) e está sendo implantado em Manaus. Não consigo imaginar alguma intervenção viária sem traumas, muita confusão e elevados custos na Rodovia Augusto Montenegro e na Governador José Malcher, por exemplo. São vias totalmente entupidas pelo tráfego intenso e estressante. Temo que o projeto BRT-Belém, com tantos problemas e custos adicionais de aditivos inevitáveis, acabe saindo mais bem caro do que o sistema aerotrem, uma solução muito mais moderna e eficaz. Os especialistas defendem esse sistema como o mais adequado para cidades com mais de 1 milhão de habitantes e com vias que não mais permitem intervenções viárias no solo degradado. É o nosso caso. Ainda no caso de Belém, poderiam ser construídos terminais de integração do novo sistema: 1) - em Icoaraci; 2) no Entroncamento; 3) em São Brás; 4) na UFPA e 5) - na Praça Pedro Teixeira.
Nesta última, ali em frente à Estação das Docas, seria feita uma conexão com ônibus circulares para o Ver-o-Peso e Cidade Velha, fechando-se as demais vias do comércio para o tráfego de veículos, a exemplo do que acontece hoje em todos os grandes núcleos urbanos, cujos centros estão sendo urbanizados e revitalizados. Seria também uma maneira de se evitar o tráfego intenso de veículos pesados no entorno do Ver-o-Peso, que, a exemplo do que aconteceu com a orla de Abaetetuba, poderá também ser tragado pelas águas, caso nada seja feito para evitar essa tragédia, como já alertou o emérito engenheiro Nagib Charone, grande estudioso dos problemas de Belém. Infelizmente, também pouco ouvido e consultado.
A estação Rodoviária de São Brás - única no mundo que fica no centro de uma grande cidade - também seria deslocada para a nova avenida Independência, importante corredor de tráfego que a cidade vai ganhar ainda em 2014, construída pela Secretaria de Integração Regional, Desenvolvimento Urbano e Metropolitano (Seidurb), do Governo do Estado.
São essas apenas sugestões de um jornalista-cidadão, que não é técnico em planejamento nem de trânsito, mas que ama a cidade e que conhece bem as suas belezas, mas também seus problemas, notadamente de mobilidade urbana, porque anda de ônibus e também frequenta suas feiras, mercados e praças, onde o povo está. Povo cordial e hospitaleiro que também ama sua cidade e deseja que ela fique cada vez mais bonita e brejeira na sua morenice da cor do açaí. Coragem para ousar - é o lema que poderia ser adotado pelo prefeito Zenaldo Coutinho no planejamento dos festejos dos 400 anos de Belém.

Em tempo: os escudos de Remo e Paysandu no protótipo do aerotrem simbolizam que esse projeto também é um anseio das torcidas dos dois ícones da cultura paraense, que juntas representam algo em torno de 90% da população e do PIB paraense.

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FRANCISCO SIDOU é jornalista
chicosidou@hotmail.com

Um comentário:

Anônimo disse...

Interessante a idéia do aerotrem proposta pelo caro jornalista. Entendo muito pouco de projetos de mobilidade urbana. Entretanto, ainda que o aerotrem possa ser solução melhor que o BRT, acredito que a única solução viável - e bem mais cara - será o metrô. Enquanto um ônibus do sistema BRT leva uns 200 passageiros, uma composição do metrô levará 2000 passageiros.

Creio que seria preferível iniciar a construção de uma linha de menor quilometragem e depois ir avançando gradativamente às comunidades mais densas. Para mim o BRT já nasce saturado, defasado.

Belém é uma grande metrópole que já pede um sistema moderno de transporte.

Quem sabe se após a alvissareira notícia trazida acima, de que a Policia Federal anda abrindo bem menos inquéritos sobre corrupção( apesar de que estou em dúvida se os corruptos estão com medo das pesadas "penas" aplicadas por nossos tribunais aos corruptos, ou se é a PF que anda fazendo corpo mole) poderá sobrar um bom dindin em caixa para começar as obras do metrô.

Kenneth Fleming