segunda-feira, 7 de julho de 2014

Fazer o quê, né eleitor?



Ainda que a maioria de nós eleitores tenha aprendido que essa história de alianças partidárias nessa fase inicial de arrancada da campanha eleitoral não é novidade, mesmo sendo estranha, não é ilegal e, nem por isso, é motivo de salutar comemoração. Muito pelo contrário, é a imagem da fragilidade dos partidos, decorrentes de normas e mentalidades que cada vez mais distanciam o sistema representativo de qualquer coisa parecida com representação. Premissa posta e já com certo cuidado analisada e com a aceitação unânime tanto dos que estão em postos de observação quanto dos operadores da política.
Como estamos em época de Copa do Mundo, tem jogo. O PSDB dava o PTB como favas perdidas para o campo da presidente Dilma Rousseff até a semana passada. A convenção que exibiu o PMDB rachado no apoio a Dilma injetou novo entusiasmo nos tucanos. O QG do presidenciável Aécio Neves investiu no PTB e se surpreendeu com uma inesperada receptividade. Os motivos, obviamente, são os de sempre: nomeações e liberações de verbas prometidas e não consumadas. Uma delas: a substituição no comando dos portos da Bahia. Resultado: Aécio foi beneficiado com apoio à sua candidatura em recente convenção do PTB, pelas crises na relação do PTB com o Planalto.
Sem alívio e com mais contra do que Pros, o Planalto tenta evitar a candidatura do deputado Miro Teixeira no Rio de Janeiro. O Pros, partido criado em 2013 para apoiar o governo, agora anda desconfiado do Planalto e do PT. Motivo: ambos fazem pressão para que o Pros apoie formalmente Anthony Garotinho (PR) na eleição para governador do Rio de Janeiro. Miro Teixeira é o candidato do Pros a governador no Rio. É apoiado pelo PSB do presidenciável Eduardo Campos. Para deixar essa dupla ao relento no Rio, o Planalto e o PT trabalham contra Miro.
Agora, se esse esquema de aliança não tem a importância devida, por que os candidatos se esforçam para comemorar com tanta euforia deste ou daquele partido? Para muitos o tempo de televisão explica, mas com certeza não explica toda a história. A presidente Dilma não necessita de minutos no horário eleitoral. No entanto, depois de ter perdido o apoio do PTB, luta com todas as forças para segurar o PP, o PR, o PROS e o PSD. É interessante notar que a adesão de qualquer uma dessas legendas ou até de qualquer outra – vale também para oposição – com toda certeza não encaminha o voto do eleitor. Pelo menos não nas capitais e nas cidades consideradas com boa densidade eleitoral.
A Copa do Mundo ainda vai continuar mexendo com mentes e corações até meados de julho, mas a campanha presidencial está aos poucos indo para as ruas. Recentemente, várias candidaturas à Presidência da República e aos governos dos Estados foram oficializadas – e o clima de radicalização está no ar. A radicalização dos discursos políticos de candidatos e aliados turvou a corrida presidencial em meio à Copa do Mundo. A baixaria das declarações colocou por terra as chances do bom confronto de ideias e projetos visando melhorias para o País. Como bom oportunista, Lula enxergou a oportunidade de vitimar a presidente, que anda em baixa nas pesquisas. Tratou de resgatar aquela velha história dos “nós” contra “eles” e de “pobres” e “ricos”, fazendo ensejar um ambiente hostil e perigoso, criando um clima de animosidade elevando o grau de rejeição dos eleitores.
Veja bem! Um susto causa um trauma, mas redimensiona os valores. Se analisarmos bem, verão que os brasileiros, eternos apaixonados por futebol, jamais estariam divididos ou contra a Copa do Mundo. O que, enfim, demonstramos ser é contra um governo totalmente perdido e desorientado, que dá credibilidade a políticos corruptos, que usam quaisquer meios para atingir o fim de permanecer no poder e enxergam neste momento tão impar uma oportunidade de encher os bolsos. Tomara que nosso País não se transforme numa ilha de complacência, cercada de piedade por todos os lados.

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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com

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