terça-feira, 16 de setembro de 2014

A lógica do voto útil



Fala-se aos quatro ventos que eleger Marina Silva presidente da República antecipadamente, sem nenhum respaldo convincente, apenas por comoção, é preocupante. Mas ninguém parece estar preocupado com a juventude. O jovem cansou da antiga ideia de que política no Brasil não tem mais jeito. Foi esse mesmo jovem que encorajou a sociedade com os protestos de 2013 e assustou políticos ao criar uma nova trajetória para a história do País. A visão do jovem como um analfabeto político se tornou ultrapassada. Nessas eleições são eles os mais influentes e informados - e podem inclusive mudar o rumo do Brasil. Esse novo eleitorado cansou de esperar passivamente por mudanças e se mostra a cada dia mais disposto a lutar pelas reformas que almeja.
É bom tentar perceber o que os jovens pensam sobre política. É fundamental descortinar o universo do pensamento da juventude brasileira em relação aos assuntos ligados à política. Descobrir que a nova geração não está acomodada é relevante, na medida em que mostra aos políticos brasileiros a urgência de entender seus anseios. Historicamente, a juventude sempre foi peça fundamental na política. Mas muito tempo os jovens brasileiros ficaram omissos. No entanto, após as manifestações de junho de 2013, esse cenário foi modificado. A juventude está mais ousada, mais comprometida e sabe que seu voto nessas eleições pode fazer toda a diferença.
Há que se ter cuidado com a falta de informações precisas em programas eleitorais em que se tentam ludibriar as pessoas, mas eles esquecem que a população já está esperta e não é mais influenciada por meio de propagandas enganosas. O objetivo é trazer, através das palavras dos próprios candidatos ao maior cargo majoritário do país, uma ideia clara e detalhada de como cada um deles pretende governar nos próximos quatro anos, caso seja eleito. Acredita-se, assim, estarem contribuindo para um debate construtivo e transparente rumo às reformas de que o País tanto necessita, dentro dos valores democráticos que sempre se cultiva.
O programa de governo lançado por Marina em 29 de agosto mostra que, a depender do assunto, ela é uma opção de voto parecido tanto com Dilma Rousseff quanto Aécio Neves. Na parte econômica é neoliberal e revela estar sintonizada com as bandeiras tradicionalmente empunhadas pelo PSDB. Na área social, em sua visão geral sobre reforma política e participação popular em decisões e fiscalização de órgãos públicos, se aproxima do PT, seu partido até 2008. A hibridez não surpreende. Como estratégia, em um dos lances mais representativos, o PT compara a eventual eleição de Marina à aventura de Jânio Quadros e Fernando Collor, considerados símbolos do naufrágio de político que chegaram ao poder.
Para a presidente Dilma, a boa notícia vem acompanhada de um desafio difícil de ser superado. O número de eleitores que aprovam a sua atuação pessoal à frente do Palácio do Planalto saltou de 40,5% entre 9 e 12 de agosto para 46,3% na primeira semana de setembro. O desafio consiste em transformar essa aprovação em votos, pois, no mesmo período, a intenção de votos na candidata do PT caiu quase 4% e sua rejeição cresceu 2%. São incoerências típicas de um eleitorado que ainda está em busca de definições mais consistentes.
Já os tucanos acreditam em uma virada. Mas parte do eleitorado do PSDB, conservador, decidiu trocar um candidato competitivo num eventual segundo turno, Aécio, pela incógnita representada por Marina. Esse comportamento explica uma teoria lançada por Fernando Henrique Cardoso, que foi abraçada por algumas lideranças, em torno da candidatura de Aécio. Mais importante é vencer o “mal maior” representado pelo PT. Assim bastou a primeira sondagem apontando que Marina, ao contrário de Aécio - que se acha o mais preparado e mais seguro para mudar o Brasil -, poderia vencer Dilma num ainda distante segundo turno para que alguns tucanos embarcassem na lógica do voto útil.

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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com

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