sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Anjos, arcanjos, diabos e governança

Por NÉLIO PALHETA, jornalista

No Congresso Nacional não existem anjos. E se algum por lá transita, está mais para personagem do Inferno de Dante, do que para o Evangelho de Lucas (1,26-38) – o da Anunciação do Anjo Gabriel.
Entrando lá, ninguém escapa!
É com eles, os do bem e os do mal, que o presidente da República tem que governar. O que não significa que tenhamos que nos conformar com a realidade política.
Qualquer candidato que prometa coisas e loisas (catedrais ou túmulos) sobre goverança estará nos enganando, tão desacreditado está o sistema político. Ao se falar de Reforma Política, não se pode esquecer que o sistema - além de anjos, arcanjos e diabos, que só aparentemente vivem mais nos subterrâneos do Poder - é povoado por leões que engolem anjos e querubins; orçamentos e verbas, comissões e propinas de toda ordem. Dá no mesmo.
Isso, como publicou Veja, pode ser ilustrado com a máxima do jurista norte americano James Madison (um dos fundadores do Partido Republicano, junto com Thomas Jeferson): “Se os homens fossem anjos, não seria necessário governo algum. Se os homens fossem governados por anjos, o governo não precisaria de controles externos nem internos” (fragmento do Federalist Papers - conjunto e argumentos discutidos na Filadélfia em 1787, durante a elaboração da Constituição Americana; são os 85 artigos que ratificaram a Constituição Americana, e que originaram o livro "O Federalista").
Um país governado à luz desses artigos é o melhor dos mundos – não exatamente por serem os Estados Unidos da América do Norte o berço desses pensamentos fantásiticos sobre governo, governança e equilíbrio de Poderes neste pedaço do mundo ocidental, mas por que a governança deve refletir o equilíbrio entre os poderes, o respeito mútuo dos limites de cada instituição. O problema é que, no Congresso Nacional daqui, de lá e de alhures existem mais diabos do que arcanjos, cada um querendo dominar o Céu ou o Inferno, dependendo da índole de cada um.

A sociedade, nesse embate, acaba talvez mais refém do Inferno do que do Céu políticos. E os anjos (até mesmo os do Céu) são capazes de agir até onde jamais se poderia imaginar, no Brasil: as profundezas dos poços de petróleo. E no inferno acabamos todos!

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