segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Observatório Desespero


A presidente petista permanece no Planalto após vencer uma eleição para lá de apertada. Ganhou mais votos nos grotões. Mas terá tarefa muito difícil em seu segundo mandato e enfrentará um país dividido a partir de janeiro de 2015. Em seu primeiro pronunciamento após ser eleita em um hotel de Brasília fez um apelo pela união do país e ao entendimento, afirmando que não acredita que o país esteja rachado. Assumiu como primeiro compromisso do seu segundo governo o diálogo com a oposição. Ela entende, sim, que mobilizaram ideais e emoções às vezes contraditórias, mas movidas pela busca de um sentimento comum: um futuro melhor para o país.
Mas faz muito tempo que na história deste país não se via uma eleição tão agressiva, marcada por intenso tiroteio verbal entre dois candidatos. Além dos ataques pra lá de ostensivos, a disputa também foi marcada pela guerra do mergulho, bem subterrâneo e apócrifo nas redes sociais. A campanha dos candidatos à Presidência da República de 2014 ficará marcada na história. Discutir as propostas de governo do Brasil ficou em segundo plano, enquanto nos debates predominou a autodefesa contra as acusações adversárias. Difícil foi aceitar que existiram pessoas que acreditaram nas afirmações da presidente. É um alento, no entanto, saber que há um grande número de brasileiros que já não se deixa enganar por suas calúnias. O desespero do PT diante da ideia de perder o poder fez com que o partido transformasse essa disputa presidencial em uma das guerras políticas mais sujas da história do Brasil.
Foram dias de voos rasantes maculando reputações sem precedentes. Para se manter no poder, os articuladores da candidata petista adotaram o que chamaram de estratégia de desconstrução do adversário. O time da candidata à Presidência da República disseminou o medo e escondeu a crise econômica para tentar permanecer no poder. Pela boca dos arautos petistas, liderados pelo presidente Lula, o oponente de Dilma, Aécio Neves, foi classificado como nazista, que agride mulheres, detesta trabalhar, tem problemas com bebida e, para completar, iria desempregar os brasileiros e acabar com o programa "Bolsa Família". Quem avaliasse mais detidamente a tática oficial, que despejou milhões em campanha, poderia perceber a inconsistência de tamanha artilharia de insultos e ilações - e o intuito por trás dela.
A calúnia virou arma de destruição. Nas ruas a militância partidária, vigorosa e incessante no seu afã de humilhar, caluniar, distribuía panfletos apócrifos com teores terroristas, falando da ameaça que viria de uma vitória da oposição. Era o clímax de um plano covarde que se repetia depois da destruição implacável imposta à Marina Silva, chamada de homofóbica e acusada de assassinato de um manifestante gay por parte de seus seguranças, segundo ela mesma informou ao jornal britânico "Financial Times". Indignada com o jogo rasteiro e sujo Marina fez uma declaração de apoio aberto a Aécio e as mudanças contidas em suas propostas de governo.
O grupo do governo usou a retórica e os métodos mais sujos para desqualificar seus oponentes. Falsidades, distorções e manipulações deram o tom em peças divulgadas pela campanha oficial do PT e também nos boatos que parte da militância fez circular na internet. O governo sempre afirmando que a "crise vem de fora", desculpa usada, quanto nas defesas que a presidente faz de sua política econômica quanto como forma de justificar a recessão técnica no País.
Espalhou-se que a derrota da presidente, segundo a campanha oficial, poderia dar fim ao Minha Casa Minha Vida e elevaria o desemprego: discurso populista para atingir os eleitores da baixa classe média, em que se concentram os votos que poderão ser decisivos (e foram) na reta final. Nos últimos quaro anos, o País vive uma paralisia econômica que se agrava e a desmoralização de instituições como a Petrobrás em que partidários do governo estão envolvidos.

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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com

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