terça-feira, 7 de julho de 2015

"Saudade é para quem sabe ter"


Do amigo Thales Bruno D'Oliveira, em comentário sobre a postagem Walmir Botelho D'Oliveira, seu pai (na foto), que nos deixou no último sábado, aos 67 anos de idade:

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Mano! Acho que algum poeta já deve ter escrito que saudade é para quem sabe ter. É para quem sabe que viver é um dom exclusivamente de que passou por esta vida e viveu, literalmente, como diria Vinícius. Quem saberia dizer o horário certo que esta vida fecha as portas na nossa cara e nos exclui dela??? Assim seria fácil: Bastaria agendar tudo e deixar o melhor para fazer depois de tudo pronto, esperando as cortinas baixarem indicando o final do espetáculo. Mas a vida é complicada e por vezes nos tira de cena quando nem começamos!
A sua competência, como ele mesmo dizia, era tamanha que ele nem tinha medo de sair antes de deixar um excelente trabalho concluído. Não tinha esse medo, afinal: "Onde eu sentei vocês não põem o nariz", dizia, às vezes. Mesmo esta rispidez pode indicar um homem extremamente carinhoso, pois não é aquele que ralha senão alguém preocupado com quem está tentando caminhar - e errar ou acertar?
Meu pai sempre foi uma pessoa meio geniosa, mas muito carinhosa, de quem eu adorava estar perto, qualquer que fosse o momento. Não pude estar nos últimos minutos de vida, mas sabia que aquilo estava por acabar. A doença nos cansa a alma, os problemas, as aporrinhações, a própria vida cansa. E cansa tanto a matéria e a máquina que esta vai se desligando pouco a pouco, depois de atingir o ápice. Dizem que as pessoas que enfrentam e conhecem o outro lado saem tão maravilhadas que não querem voltar mais de lá. Talvez tenha sido isto que tenha acontecido de verdade.
Ele passou por este plano deixando muitos inimigos, decerto que é verdade, mas também deixou muitas pessoas que lhe queriam bem tanto que oraram por toda a sua existência pelo bem dele, extirpando de seu caminho as maldades que desejaram aqueles que não tem um bom coração - ou uma boa marca para deixar. Para todos estes, eu, com o pouco que conheço da vida, só posso sentir muito. Para estes, digo que o desencarne pode ser uma coisa de apavorar qualquer um!
Quem faz o bem e o deseja até o último suspiro, este estará nas graças de Deus. Ainda que tenha cometido muitos erros. Somos imperfeitos, afinal!
Finalizo com uma frase do meu amigo Holanda, falecido em dezembro de 2004, no qual ele relata no livro "A cor da Saudade" e que eu acho que cai bem com o momento:
"- E eu, o que faço desta vontade danada de viver?
- Dormi, sonhei, morri... Talvez. Quem sabe?"
Descanse até que Deus lhe cure totalmente dos últimos resquícios da doença que o vitimou na Terra, meu pai! Depois você volta e empresta seu bom coração aos que ficaram, morrendo de saudades!!!

Um comentário:

Anônimo disse...

Às vezes, relendo o que escrevi, vejo uma porção de imperfeições na minha missiva. Eu aprendi a escrever uma porção de palavras novas que acho que "abafo" quando publico... rsrsrs
Mas a saudade parece uma cebola quando a cortamos: Sempre nos faz chorar. Quando escrevi este texto, estava mais sereno. Hoje, ao ler esta e outras publicações sobre o meu pai, as lágrimas da saudade voltaram a marejar meus olhos... Sei que onde ele estiver agora está bem. Cuidando de outros afazeres agora. E eu, da minha saudade eterna...
Obrigado, Mano, por postar estas lembranças. Aqui e acolá, no primeiro post. A pesar de isso me fazer chorar, o que é natural na saudade. É bom ver que, mesmo tendo partido, ele ainda vive na lembrança das pessoas!

Thales Bruno