segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

Perguntas sem resposta


FRANCISCO SIDOU

Em entrevista concedida ao Programa "Linha de Tiro", do conceituado colega jornalista Carlos Mendes, com transmissão ao vivo pelas redes sociais, o prefeito interino de Belém, Orlando Reis, conseguiu escapar das perguntas mais incômodas, usando daquela conhecida habilidade de políticos profissionais de "falar sem dizer" ou de não entrar no mérito da questão levantada. Aliás, entrevista ideal para os políticos é aquela em que o entrevistador "levanta a bola para que ele possa cortar"...
Não é o caso do Programa "Linha de Tiro", que suscita as questões mais relevantes do interesse da população de Belém e da sociedade paraense. Por falta de tempo, algumas perguntas que encaminhei ao programa, por solicitação do amigo Mendes, deixaram de ser formuladas/respondidas ou o foram de modo não convincente. "Et por cause", como perguntar não ofende, torno públicas as perguntas formuladas daqui de Brasília, onde me encontro:

SAÚDE
I - Com a saúde da população na UTI, com os dois Pronto Socorro da capital sem condições de atender a crescente demanda por seus serviços, como explicar que a Prefeitura de Belém deixou de usar R$ 1 milhão e 300 mil de uma emenda parlamentar do deputado federal Edmilson Rodrigues, conforme ele mesmo denunciou em ofício ao ministro da Saúde ?
II - Diante da precariedade (sobretudo de espaço) do Pronto Socorro da 14 de março, por que a Prefeitura de Belém não consulta o governo do Estado quanto a possibilidade de ser usado o enorme pavilhão desativado da velha Santa Casa (nos fundos em área contígua) para ampliação dos serviços de atendimento em urgência e emergência de doentes que chegam diariamente oriundos também de vários municípios do Estado do Para ? Sim, por que os prefeitos desses municípios costumam usar as verbas destinadas à saúde da população apenas para a compra de ambulâncias para transportar os doentes até Belém. Então, o Estado entraria com uma contrapartida em termos de recursos e instalações adequadas com a reforma dos dois pavilhões sem uso da antiga Santa Casa . Com essa parceria, todos sairiam ganhando. O que o senhor tem ou pode dizer a respeito ?

MOBILIDADE URBANA
I - Até quando vamos conviver com essa balbúrdia no trânsito de Belém ? Como já ensinavam os índios Tupinambás e como também cantava o poeta Ruy Barata "os rios são nossas ruas"... Então,o que falta para a implantação de linhas fluviais urbanas, pelo menos de Icoaracy até Belém ? É certo que os donos de ônibus, liderados por Barata & Cia, não deixam a Semob sequer abrir licitação para esse modal de transporte ? É por isso que o projeto foi arquivado ? E o interesse coletivo de uma população que não aguenta mais o sufoco de um trânsito caótico e neurótico não é considerado pela prefeitura ? Por acaso são os donos de ônibus que elegem os prefeitos de Belém ?
II - Em capitais menores que Belém já existem ônibus com ar condicionado há vários anos. É o caso, por exemplo, de São Luís (MA) e Boa Vista (RR), sem falar em outras grandes capitais como Manaus, Fortaleza, Rio, São Paulo, Belo Horizonte e Porto Alegre. Em média, as passagens giram em torno de três a quatro reais. Por que só em Belém prevalece essa campanha terrorista promovida pelos barões dos ônibus de que o custo operacional desse transporte coletivo iria inviabilizar sua implantação com passagens a cinco reais? Por que em São Luís e Boa Vista o custo é de três reais e ainda com bilhetagem única? Por que só em Belém é que se torna inviável a adoção de pelo menos a metade da frota com ar condicionado?
III - A propósito do ar condicionado nos ônibus não vale a resposta de que está previsto esse serviço na Lei Orgânica do Município para as próximas licitações com prazo dobrado de 12 anos. Isso porque essa previsão não tem força de lei municipal. E os barões dos ônibus, acostumados a fazer o que bem entendem, não vão dar a mínima para essa sugestão...Vai ser algo parecido com a lei municipal aprovada pela Câmara de Belém que "recomenda" que todos os assentos nos ônibus são preferenciais para pessoas idosas, obesas, mulheres grávidas,etc. Ora, se não é respeitado nem o espaço preferencial na frente, imagine-se no restante do ônibus. Essa é o tipo de lei feita para não vingar. O que o senhor acha disso? Os vereadores também não querem que a população tenha o conforto do ar condicionado? O senhor já andou em ônibus superlotado com chuva e todas as janelas fechadas ? Algum vereador já teve essa experiência?
IV - O projeto BRT, que nasceu com atraso e sérios desvios de planejamento ( e de recursos na gestão Dudu), já se arrasta por longos 10 anos. Será concluído até 2020?
No Japão, no ano passado, construíram um BRT, com 30 km de extensão, mais ou menos a do BRT -Belém, em 180 dias, com três turnos de trabalho e a um custo menor em cerca de R$- 130 milhões. Por que em Belém toda obra pública demora mais e tem de ser mais cara?

SANEAMENTO
I - O saneamento das Bacias da Estrada Nova e do Igarapé do Tucunduba já se arrasta por mais de 12 anos, consumindo toda a verba destinada aos projetos. Agora é revelado ela PF e pela Justiça Federal que o ex-prefeito Duciomar Costa e sua "equipe" de assessores rapaces desviaram grande parte desses recursos para proveito próprio e enriquecimento ilícito, inviabilizando a conclusão dessas importantes obras para Belém. Quando os senhores assumiram a prefeitura - o sr.e o prefeito Zenaldo - não tiveram a preocupação de mandar fazer uma auditoria de posição para conhecer a real situação dos cofres públicos, cuja guarda passaram a exercer?
II - A gestão do lixo sempre foi terceirizada para empresas privadas , através de contratos altamente generosos. Ocorre que a terceirização não exime de responsabilidade a gestão pública sobre serviços essenciais. O que se observa no chamado aterro sanitário de Marituba, que substituiu o lixão do Aurá, é a total ausência da gestão pública na supervisão desse importante serviço de utilidade pública.
Foi preciso a ação de duas mulheres corajosas - a juíza e a delegada de Marituba - em nome da sociedade, para dar um basta nos abusos cometidos pela Revita, provocando destruição do meio ambiente e já quase morte do Rio Uriboca. Foi preciso a população se revoltar e com lideranças esclarecidas como a do ambientalista André Nunes clamar pelos seus direitos. A prefeitura de Belém não tem nada a dizer sobre esse assunto?
III - Por que a Prefeitura de Belém não coloca contêineres para coleta do lixo nos bairros e regiões de difícil acesso, como nas baixadas e nas margens dos canais, evitando com isso e uma campanha educacional, que a população jogue seu lixo doméstico nas ruas, nos bueiros e nos canais? O prefeito chegou a recomendar que a população guardasse seu lixo em suas casas até o caminhão passar... Será que não existe uma alternativa mais eficaz e menos humilhante para o povo de Belém , que por sinal elegeu e reelegeu o atual prefeito ? Será que o povo de Belém não merece um tratamento mais digno de parte do poder público?

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